16 setembro 2014

Os estragos que um mineroduto faz

Concessão de água para uso em mineroduto pode ser suspensa

Com o regime de chuvas escasso há pelo menos dois anos, a outorga para uso de águas em Minas Gerais pode ser paralisada. Pelo menos é o que pede a Comissão das Águas da Assembleia Legislativa, que vai lançar uma campanha com o pedido de suspensão das autorizações para captação de águas para projetos industriais pelo menos até que o nível dos reservatórios volte à média histórica.
Um dos principais atingidos pela questão são os minerodutos, tubos que levam minério em forma de polpa das minas até os portos nos Estados vizinhos. Atualmente, há três minerodutos em operação em Minas Gerais, todos da Samarco. Um da Anglo American está em fase de instalação e há pelo menos três em projeto: um da Sul Americana de Metais (SAM), um da Ferrous e um da Manabi. Juntos, eles utilizarão cerca de 15 mil m³ de água por hora, de diferentes bacias que cortam o Estado.
“O que os minerodutos fazem é um acinte. A mineração tem outras formas de se viabilizar, não precisa sacrificar o uso múltiplo das águas”, diz o deputado Almir Paraca, presidente da Comissão das Águas.
A resistência ao uso do grande volume de água pelas mineradoras também é grande nas cidades onde os empreendimentos serão construídos. Em Viçosa, na Zona da Mata, o maior temor é que a captação de água para o mineroduto da Ferrous comprometa o abastecimento da cidade. O assunto foi tema de uma reunião na Universidade Federal de Viçosa (UFV) no início deste mês.
“Temos um manancial já fragilizado e vem um mineroduto para aumentar a ameaça”, diz o coordenador da Campanha Pelas Águas e Contra o Mineroduto da Ferrous, Luiz Paulo Guimarães. Ele acrescenta que, além do risco de desabastecimento da cidade pela captação no manancial principal, pequenas comunidades rurais e produtores também serão afetados pela extinção de nascentes que passam em suas propriedades.
Em abril, a prefeitura de Açucena, no vale do Rio Doce, revogou a anuência para a instalação do mineroduto da Manabi na cidade. Um dos motivos foi a preocupação com o uso da água. Em documento assinado pela prefeita Darcira de Souza Pereira, por entidades socioambientais e autoridades, o uso do recurso hídrico para a finalidade é chamado de “crime lesa-pátria que lança mão de um imenso volume de água para escoar minério bruto para o litoral”. Todos os minerodutos têm mais de 400 km de extensão, e o da Anglo, com 525 km, será o maior do mundo.


Ferros terá resistência organizada 

Os moradores de Ferros, na região Central de Minas Gerais, pretendem organizar uma resistência ao mineroduto da Manabi em toda a bacia do rio Santo Antônio. Nos últimos meses, foram três seminários para discutir os impactos, em Açucena, Sana Maria do Itabira e João Monlevade. O próximo será em Ferros, em agosto. “Estamos muito apreensivos”, diz a presidente da Associação de Defesa do Desenvolvimento Ambiental de Ferros (ADDAF), Tereza Cristina Almeida Silveira.
De acordo com ela, o rio que corta a cidade já sente o impacto do mineroduto da Anglo, que passa em municípios vizinhos.

Fonte: Ana Paula Pedrosa - O Tempo

Um comentário:

  1. Nos municípios mineiros de Abre Campo, Jequeri e Rio Casca, produtores rurais que tiveram suas terras cortadas por mineroduto não receberam indenização e ainda respondem como réus em processo de Servidão Administrativa, movido pela Codemig. Ou seja, uma tremenda covardia em que as empresas beneficiadas com o 'empreendimento' não cumprem suas obrigações e ainda usam o Estado de Minas Gerais como escudo.

    Renato Sigiliano

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