Assimtabão era uma cidade nem muito grande nem muito pequena. Estava no meio de muitas outras cidades parecidas. Em Assimtabão as pessoas construíam suas casas do jeito que queriam, pois não havia regras. Não, havia regras. Só que ninguém ligava para as regras, ninguém seguia as regras, ninguém exigia que as regras fossem cumpridas. As regras também não eram seguidas nas construções de escolas, hospitais e postos de gasolina.
Todo mundo queria construir umas casinhas para morar e para ter um patrimônio. Então só uma regra era seguida: a de construir o maior número de casinhas possível, pois os terrenos estavam cada vez mais caros. Era só ter um terreno, daqueles que tinham uma casinha só, daqueles que as pessoas herdavam dos pais. Com um terreno dava para construir dois apartamentos para os filhos, dois não! Oito? Oito não! Dezesseis? Dezesseis apartamentos, no mínimo!
Em Assimtabão só tinha dois tipos de terrenos: os estreitos morro acima e os estreitos morro abaixo. Nos terrenos de morro acima bastava cortar a terra e jogar a terra morro baixo. Nos terrenos de morro baixo bastava fazer um muro e jogar terra dentro. Assim todos os terrenos ficavam planinhos. Aí era pegar um papel, traçar um retângulo, que era a forma mais comum dos terrenos e, dentro do retângulo, ir subdividindo em outros. Dentro de cada retângulo menor era só traçar uma sala, quartos, cozinha e banheiro. Pronto! Dá para fazer loja no térreo e mais cinco pavimentos e cobertura. Mas tinha um problema. Um não, quase sempre 2 ou 3: os vizinhos dos lados e dos fundos, quando o lote não dava para um fio d´água, aí não tinha problema, era só deixar uns dois metros e estava ótimo!
Era preciso colocar janelas, mas os malditos vizinhos construíram nas divisas. Isso dá um trabalho para desenhar outra solução e um prejuízo danado, pois colocar poços de ventilação era perder área, mas, com eles dá para iluminar os cômodos. Se uma janela ficar de frente para outra, é só o morador colocar cortinas. Não vai ter um barulho? Não vai ficar um pouco abafado? O banheiro não está muito pequeno? Tem problema ventilar pela cozinha? Não tem área para pendurar roupa para secar? Não esquenta não, a gente acostuma! É para ser alugado!
Isso tudo levava o valor dos lotes nas alturas. Só quem não tinha lote ia morar mais longe. Um grande problema era onde colocar os carros. As ruas estreitas, mal davam duas mãos e só um lado para estacionar. Cabe umas seis vagas e já está bom! Quem for alugar anda mesmo de ônibus ou vai a pé para o trabalho. Ademais, isso é problema do prefeito.
Assim Assimtabão ia crescendo. Todo mundo dava seu jeito. Até que um dia apareceu um prefeito que tinha morado na capital.
- Eu vou aprovar umas novas leis para melhorar a qualidade de vida dos assimtabãonenses!. Vou exigir afastamento da rua, afastamento dos vizinhos e até dos rios! Vou exigir uma vaga de estacionamento para cada apartamento! Dizia o prefeito
- Uai, prá que isso? Reclamava uma cidadã enquanto outra fazia uma cara feia!.
- Só vai encarecer os prédios! Quer gerar um montão de desempregos? Ele quer expulsar a gente daqui? Resmungava o raivoso construtor.
- Vou aumentar o hospital para tratar das pessoas com problemas respiratórios! Bradava o alcaide.
- Ah, isso aí é bom, pois tem muito disso aqui! Concordava outro cidadão.
Passaram os meses, e os moradores de Assimtabão, que não gostaram nada das novas leis, arrumaram suas soluções: davam uma gorjeta para o fiscal não perturbar; apelavam para os vereadores para dar uma mexidinha nas leis ou faziam as obras escondido. Numa coisa a população foi unânime:
- Esse maldito prefeito nunca mais vai ser eleito!
Uai, parece até a cidade onde eu moro.
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