sábado, 7 de março de 2015

Tempos de ficção

Versão ampliada de artigo publicado no jornal Tribuna Livre, de Viçosa-MG, de 4/3/2015.

Cenário de Blade Runner (1982)

Ficção científica é o meu gênero literário e cinematográfico favorito. Desde moleque adorava Perdidos no Espaço e Space Rangers. Lia avidamente muitos livros de Isaac Asimov (Eu robô; Fundação; O homem bicentenário; o Fim da Eternidade); devorava Arthur Clarke (a saga Odisseia no Espaço; Encontro com Rama; O fim da infância; Canções de uma terra distante e 3001) e George Orwell e (1984 e a Revolução dos Bichos). Nunca deixei de ler e assistir o que esses escritores malucos maravilhosos produziam e inspiravam no cinema (Metrópolis, de 1927;  Planeta dos Macacos; Contatos imediatos do terceiro grau, de 1979; Matrix, E.T., de 1982). Conheci Carl Sagan do qual destaco Cosmos; O mundo assombrado pelos demônios; Bilhões e bilhões, e o lindo romance Contato (de 1997, que virou um excelente filme) e os de Phillip K. Dick (O homem do Castelo Alto, Os três estigmas de Palmer Eldritch) e Androides sonham com ovelhas elétricas? o qual inspirou a obra prima do cinema Blade Runner, de 1982, de Ridley Scott.

Cenário de Soylent Green (1973)

Assisti a inúmeros filmes de ficção. A ficção científica era um amplo campo infinito de fantasias e especulações. Mostrava erros grosseiros da física em espetaculares efeitos (as ingênuas e divertidas sagas Jornada nas Estrelas e Guerra nas estrelas). Mostrava inúmeros inventos que hoje são corriqueiros e muito mais avançados (celulares, computadores, alimentos desidratados e roupas). Sugeriam um futuro não muito distante onde os veículos voavam nas cidades  e as viagens interplanetárias faziam parte do cotidiano; onde civilizações extraterrestres eram inúmeras, amigas ou não (O dia em que a Terra parou, de 1951; Guerra dos mundos, 1953; 2001 – Uma odisseia no espaço, de 1968; Alien, o 8º passageiro, O quinto elemento). Mostravam-nos também um mundo futuro sombrio, como o Laranja Mecânica (Stanley Kubrick de 1971). Outro deles era O Mundo de 2020 (1973), do soylent green – único alimento que restava, feito de carne humana. George Orwell criou um mundo ultra vigiado pelo Grande Irmão. Blade Runner mostra-nos uma civilização compartilhada por androides inteligentes, numa sombria Los Angeles, onde predominava a chuva ácida e as línguas espanhola e chinesa.  Mad Max (1979) mostra um mundo sem combustível e sem água.  Oblivion mostra um mundo destruído e dominado pela inteligência artificial. O delicioso Wall-e (2008) retrata um uma Terra deserta coberta de lixo e uma nave onde moram os humanos, todos gordos e vivendo solitariamente junto de seus notebooks.  Mais recentemente a ficção abusa dos efeitos especiais, estragam muitos enredos interessantes, como o Eu sou a lenda (2007), Depois da Terra, Prometheus (2012), Transcendência e Elysium, onde a elite mora num satélite-condomínio e o restante numa Terra árida e superpovoada.


As atrocidades do Boko haram (2015)

Nossos dias parecem estar muito próximos de transformar seus próprios roteiros de ficção (elaborados a incontáveis mãos) em uma duríssima realidade.  Estamos ameaçados não por espécies de outras galáxias, mas pelos germes que fortificamos, pelos exércitos que armamos e pelos desperdícios nossos de cada dia. Estamos esgotando as fontes da nossa vida. Vivemos num mundo real de guerras e corrupção; superpopulação e subpopulação; piscinas cheias e cacimbas vazias; contaminação do ar, da água, do solo e do subsolo; super exploração dos recursos minerais e de seres vivos. Vamos padecer com os desmatamentos (madeira para construção ou lenha para cozinhar), com a extinção de animais e a sobrepesca.  Seres humanos morrem nos extremos de tanto comer e de nada para comer, de tantos remédios e de tantos venenos.  Estamos ameaçados entre os extremismos religiosos e morais. O que era ficção, depois virou alerta dos ambientalistas, agora ameaça concretamente nossas cidades, regiões, países, partes do nosso único planeta.

Líderes jihadistas querem a destruição das pirâmides (2015)

A ficção transformada na pior realidade é algo que não podemos achar que fica só para o futuro e que teremos todas as condições de solucionar.  Se trabalhamos tanto preocupados com o futuro dos nossos filhos e netos, é incoerente agirmos dessas  formas insustentáveis e irresponsáveis. É de arrepiar pensar que podemos já ter passado do ponto sem volta.


http://defender.org.br/noticias/internacional/lider-jihadista-exige-a-destruicao-das-piramides-de-gize/
http://www.ronenbekerman.com/citylife-archviz-challenge-winners-announced/jonathan-wisner-summer-slums-jpg/

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