Artigo publicado no jornal Folha da Mata, em 3/10/2018.
Sou Arquiteto e Urbanista, formado há 36 anos, pela UFRJ. Antes de me tornar professor, tive uma experiência de mais de dez anos em projeto arquitetônico. Trabalhei um pouco em Niterói e depois em Juiz de Fora. Quis o destino me levar para o Maranhão, onde morei por 9 anos. Projetei casas, escolas, hospitais e prédios públicos. Fiz alguns projetos de conservação de bens tombados. Em São Luís, tive a oportunidade de elaborar, como membro de uma pequena equipe, o Plano Diretor,
aprovado em 1992. No ano seguinte, passei no concurso para professor de projeto arquitetônico na UFV. Minha experiência profissional garantiu essa importante mudança. Em 1993, adotei Viçosa, e fui muito bem recebido aqui. Por gratidão e por senso profissional sempre quis melhorar esta cidade.
Participei dos projetos de adequação da Estação Ferroviária, da reforma das ruas Benjamin Araújo e Dona Gertrudes, do Quartel da PM e da requalificação do Colégio de Viçosa. Participei da criação do Conselho Municipal de Cultura (CMCPCA, 1996) e dos vários processos de tombamento. Fui um dos coordenadores da elaboração do primeiro e único plano diretor (até agora), das leis de Zoneamento e do Código de Obras e da criação do IPLAM.
Como conselheiro do CMCPCA, sempre zelei pela preservação do patrimônio cultural. Consegui, junto com outros conselheiros, algumas vitórias, mas colecionamos também algumas derrotas. A meta agora é lutar pela preservação de dois ícones da arquitetura eclética: o Hotel Rubim e o Alcântara (que já foi agência bancária). Nesses meados de 2018, os dois bens estão ameaçados. Do Alcântara tratarei em uma próxima ocasião.
O destino do Hotel Rubim está envolvido num imbróglio desde 2011, pelo menos. Ao longo desse período foram apresentados ao CMCPCA três projetos diferentes, que propunham a construção de uma torre no terreno dos fundos do hotel, deixando a volumetria (o perímetro formado pelas paredes externas e o telhado) do prédio revitalizado. Os primeiros projetos não diferiam muito entre si. Eram de arquitetos diferentes, de 2011 e 2014, creio eu. Nos dois projetos o CMCPCA propôs algumas pequenas adequações para aprovação no IPLAM. Daí em diante nada aconteceu e o prédio do hotel começou a deteriorar. Somente agora, em 2018, voltou ao CMCPCA um terceiro projeto, que considero inadequado, pois preserva apenas as duas paredes das fachadas das ruas. Internamente seriam construídos um subsolo para garagem e uma grande laje, ocupando 80% do terreno (limite da lei), e seriam demolidas todas as paredes internas. O telhado seria demolido e reconstruído posteriormente. No nosso entendimento, preservar apenas a fachada não é suficiente, pois não preserva a volumetria do hotel.
Esse é o impasse. O CMCPCA não quer, nunca impediu a construção da torre, desde que essa nova obra seja minimamente compatível com a adequada preservação do corpo do hotel. É isso, o que se pede é um bom projeto, um bonito projeto que some as duas partes. Cobra-se um projeto arquitetônico que permita que o antigo e o novo possam coexistir em harmonia, com uma estética atraente. Isso só tende a valorizar o imóvel e enaltecer os proprietários e os construtores. Isso tende a valorizar o entorno da Estação, a respeitar o patrimônio tombado vizinho, formado pela Casa Arthur Bernardes, pela Estação Cultural Hervê Cordovil, pelo Balaústre e pelo conjunto ao longo deste.
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