Artigo publicado no jornal Folha da Mata, Viçosa-MG, em 01/11/2018
Observa-se cada vez mais contrastes enormes nas paisagens das cidades. Em filmes e reportagens vemos, em cidades espalhadas mundo afora, obras fantásticas e bilionárias, símbolos de riqueza e do que a tecnologia já possibilita. São, às vezes, símbolos do domínio do planejamento econômico, ou do capital sobre o judiado planejamento urbano tradicional. No Brasil, o melhor exemplo é o que aconteceu com as cidades que sediaram os jogos da Copa e especialmente com o Rio de Janeiro, sede das Olimpíadas de 2016. As grandes empreiteiras ditaram as regras, sem chances ao planejamento correto e à participação da população. Arrecadaram fortunas para elas e para as campanhas e patrimônios dos políticos que as apoiaram. O custo social foi enorme, pois a população de baixa renda foi altamente prejudicada. É o que ocorreu com o projeto do Porto Maravilha, com lançamentos adiados e investimentos malsucedidos.
Por outro lado, a nossa volta, multiplicam-se construções de concepção e concretização medíocres, feitas, em sua maioria apenas para permitir o aumento do patrimônio pessoal. Projetos arquitetônicos e estruturais são pessimamente remunerados e isto influencia na qualidade dos projetos e obras. O direito de propriedade, tão arraigado nos brasileiros, faz com que permaneça a ideia do direito de que tudo pode ser feito para que se aproveite o máximo possível do terreno, não importa o que isso influencie nos vizinhos e na cidade. Nas áreas valorizadas tudo vale. Com isso, as nossas cidades estão a cada dia mais insalubres, barulhentas, congestionadas, feias, injustas e insustentáveis. A ganância e miopia de alguns levam a constantes alterações das regras de construção, apenas por motivos econômicos pontuais e atropelam quaisquer chances de ocorrer algo criativo, novo, preocupado com alguma coisa além dos limites dos lotes e dos lucros. Há pouco lugar para o que chamamos de gentilezas urbanas. Quando ocorrem, é preciso mostrar, é preciso divulgar.
É com esse espírito que o Departamento de Minas Gerais do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB-MG) vem premiando iniciativas diversas, de pessoas físicas ou jurídicas, que contribuam significativamente para a melhoria da qualidade de vida urbana, tornando a cidade um pouco mais amável, aprazível e humana. O prêmio IAB - MG Gentileza Urbana abrange seis categorias: 1. Arquitetura e Urbanidade (atitudes de cuidado com a arquitetura e urbanismo, como por exemplo, um projeto arquitetônico importante e que embeleza); 2. Direito à Paisagem Urbana (ações que recuperam a paisagem da cidade, através da limpeza e recuperação de pontos importantes e bonitos das áreas públicas; 3. Respeito à Memória e ao Patrimônio (ações de preservação e valorização do patrimônio histórico e implantação de políticas que recuperem a história de cidades); 4. Cidadania (gestos coletivos ou individuais, voluntários que contribuem para a melhoria da qualidade de vida); 5. Sustentabilidade Ambiental (atitudes de cidadãos ligadas à preservação ambiental e ações ambientais de caráter privado que repercutem na cidade); 6. Generosidade (Práticas cotidianas individuais de pessoas que doam o seu tempo em prol da vida de outrem).
Já foram premiadas iniciativas como plantação de árvores (Salinas-MG); assistência técnica e fazendas urbanas (Belo Horizonte); voluntários que ensinam pessoas a andar de bicicleta (Maceió); arte e jardim na fachada (Porto Alegre). Lanço esta ideia, para aproveitar a oportunidade e divulgar o que há de bom nas nossas cidades. Se procurarmos, vamos achar e mostrar aos outros que gentilezas urbanas são boas para muita gente e também revertem economicamente para quem as promove.
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