Artigo publicado no jornal Folha da Mata, em 01/08/2019
Estive recentemente em viagem ao Rio Grande do Sul, para conhecer a Serra Gaúcha. Levei comigo muitas expectativas. Todas elas foram superadas, em maior ou menor grau. Em menor grau foram os aspectos ligados às qualidades turísticas, reconhecidas nacional e internacionalmente. Realmente, há muita coisa bonita para ver; a qualidade dos hotéis e da gastronomia pôde ser verificada. Um dos pontos que mais me chamou atenção foi a qualidade de vida, marcada pelos indicadores vigorosos do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH-M), dos mais altos do país, além da saúde econômica ainda visível. A região, além de turística, tem um grande parque industrial de calçados, de confecções, de metalurgia e de viticultura. Pelo que ouvi, não faltam oportunidades de emprego. Outro ponto marcante foi o padrão de alta qualidade da organização das cidades.
A seguir, o que mais chamou atenção. Vale refletir como essa região chegou a um alto grau de desenvolvimento. Parece-me que foi o conjunto de fatos históricos, aliado às condições geográficas favoráveis, além da política de colonização do Brasil Império. No sudeste, especialmente em São Paulo, a colonização europeia foi feita para substituir a mão de obra escrava na produção do café. Por outro lado, o processo de colonização do Rio Grande do Sul visava à formação de colônias agrícolas, produtoras de gêneros necessários ao consumo interno. A pequena propriedade colonial no Rio Grande do Sul foi uma concessão das classes dominantes, dona dos grandes latifúndios do Sudeste, para os estrangeiros, para salvar os interesses da grande lavoura e, ao mesmo tempo, ocupar a região.
A região foi colonizada inicialmente pelos imigrantes alemães e, posteriormente, pelos italianos, no final do século XIX. Os colonos não encontraram vida fácil. Tiveram de trabalhar muito. Os alemães, os primeiros a chegar (anos 1820), ocuparam lotes e entre 77 e 48 hectares. Plantaram nos vales e nas encostas férteis, e souberam explorar a criação de gado preexistente, fator de ocupação principalmente dos pampas gaúchos. Daí a região se tornou um polo produtor de alimentos e de calçados. Os italianos, que começaram a chegar nos anos 1870, receberam lotes menores, de 25 hectares. A estes restaram ocupar a serra. Com muito esforço, plantaram videiras, isso tornou a maior região produtora de uvas e de vinhos do país. A economia gerada propiciou a instalação de indústrias metalúrgicas. A beleza da região, somada à preservação das culturas europeias, tornou a área atraente para muitos turistas.
A região, formada por 47 municípios, tem um grau de urbanização de quase 93%. Nela está a Região metropolitana da Serra Gaúcha (com 13 municípios). As paisagens são marcadas pelas araucárias e plátanos, além de quilômetros e mais quilômetros de estradas ladeadas por fileiras de hortênsias. Os traços da arquitetura da imigração italiana e alemã estão presentes em toda a região, principalmente em Nova Petrópolis, Gramado e Canela. São comuns lotes sem muros divisórios; quase todas as casas possuem telhados. Os ousados telhados, com várias águas e com grande inclinação, são marcantes. As ruas e praças são muito bem cuidadas e sempre limpas. Não se veem avanços das construções por cima das largas calçadas. Todas as cidades possuem plano diretor atualizado e secretarias específicas de planejamento urbano. O resultado é a qualidade de vida visível por todos os lados. A região é um belo exemplo do que deveria ser feito em quase todas as cidades da Zona da Mata mineira.