Artigo publicado no jornal Folha da Mata, em 22 de julho de 2021, Viçosa, MG
Em de janeiro de 2021, circulou uma notícia, na mídia eletrônica, apontando que Viçosa era a nona cidade mais verticalizada do Brasil. Essa posição de destaque foi levantada por um grupo de economistas que também informou que “36% da cidade de Viçosa é verticalizada”. Os critérios usados para chegar a essa conclusão foram a divisão do número de prédios pelo número de casas. O levantamento apontou Santos (SP), em primeiro lugar, com 63%; em seguida, Balneário Camboriú (SC), com 57%; Porto Alegre (RS), com 47%; Vitória (ES), com 43% e Niterói (RJ), com 42%. Cabe questionar: o que é importante nessa informação? A verticalização é um fenômeno bom ou ruim?
A verticalização pode ser um processo adequado, se for bem planejada e executada, uma vez que tem a ver com uma densidade populacional maior. É positiva por vários motivos. O primeiro deles é porque ocorre o oposto do espraiamento incontido das nossas cidades, altamente impactante para o meio ambiente; isso quando não há invasão nas áreas de preservação permanentes ou movimentos de terra gigantescos. O segundo ponto favorável é a otimização de infraestrutura urbana. Um exemplo é a questão da mobilidade, já que se evita a necessidade de grandes deslocamentos. O terceiro ponto, quando há uma densidade adequada, é a aplicação de uma mistura de usos e atividades no nível da rua (fachadas ativas). Isso traz mais gente e, por conseguinte, mais segurança, como comprovou Penãlosa, o arquiteto-prefeito de Bogotá. O quarto ponto a favor da verticalização ocorre quando as edificações com vários pavimentos possuem afastamentos em relação aos limites do terreno que ocupa, o que permite adequadas ventilação e iluminação, e impede a existência de grandes e feias empenas cegas.
Se compararmos uma foto da área central de Viçosa com fotos de várias outras cidades com maior população, veremos que ela parece a mais populosa. Nesse início de terceira década do século 21, podemos identificar, em Viçosa, prédios construídos ainda antes da prevalência da lei de uso do solo, de 2001, e outros mais recentes, com fachadas laterais bem visíveis. O processo de verticalização prossegue com a construção de novos empreendimentos, tanto no Centro e em seus bairros imediatos (Ramos, Clélia Bernardes, Lourdes) quanto em partes isoladas da cidade, como o Inconfidência, Grota dos Camilos e no bairro Santo Antônio, por exemplo.
Se Viçosa é a nona cidade mais verticalizada do Brasil, não podemos garantir, mas que é bastante verticalizada, isso é. Para lidar com esse processo contínuo, vai ser necessário um acompanhamento da gestão do município, de forma a não permitir alterações nas leis apenas para favorecer o mercado imobiliário, quanto ao controle do uso e ocupação do solo. É hora de se implementar o Plano de Mobilidade; de incentivar a produção de fachadas ativas; de buscar soluções urbanísticas que misturem usos diversos; de distribuir, no tecido urbano, espaços geradores de empregos; de oferecer incentivo ao comércio, à prestação de serviços e até mesmo às pequenas indústrias não poluentes. Ao mesmo tempo é necessário controlar a expansão que vem ocorrendo nas áreas rurais de Viçosa, em terrenos afastados, sem infraestrutura, porque tal ação encarece o custo da cidade e afeta matas, nascentes, vales e brejos. O equilíbrio é a palavra-chave para o desenvolvimento inteligente e sustentável, e o manejo adequado da verticalização é uma das maneiras para se chegar a esse estágio.
Foto: https://www.buser.com.br/destinos/vicosa-mg
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