09 novembro 2021

CIDADES INTELIGENTES?

 

Pariferia de Viçosa-MG, um loteamento fechado de cada lado. Foto outubro 2021.

Artigo publicado no jornal Folha da Mata em 4/11/2021.

Nos últimos vinte anos, o termo Cidade Inteligente (Smart City) tem aparecido muito em estudos e em projetos. No início, o setor de TICs (Tecnologias de Informação e Comunicação) começou a perceber as cidades como um grande mercado a ser explorado. Foi quando surgiu a oferta de soluções para melhorar a prestação de serviços urbanos. O termo foi se popularizando; passou a ser usado com diferentes sentidos em várias partes do mundo, inclusive no Brasil.  Ao termo Cidades Inteligentes adicionaram “Humanas”, “Sustentáveis”, “Inclusivas” e assim por diante. Essa escolha de adjetivos indica uma disputa nos bastidores. Algumas vezes, a denominação “Cidades Inteligentes” subordina-se à uma agenda mais ampla do desenvolvimento urbano, dando menos espaço às tecnologias de informação e de comunicação; outras vezes, ocorre o contrário. 

Mas o que é uma Cidade Inteligente? Será que uma cidade pode ser inteligente? 

Segundo a Fundação Getúlio Vargas, o conceito “se consolidou como assunto fundamental na discussão global sobre o desenvolvimento sustentável e movimenta um mercado global de soluções tecnológicas”. Para Ágatha Depiné, do Grupo Via Estação Conhecimento, da UFSC, a Cidade Inteligente aborda conceitos mais amplos; é “um ecossistema urbano inovador caracterizado pelo uso generalizado de tecnologia na gestão de seus recursos e de sua infraestrutura”. Para o grupo, a cidade inteligente é “ um modelo urbano baseado na utilização de tecnologias da informação e comunicação, as TICs, para melhores resultados nas dimensões: economia, pessoas, governança, mobilidade, meio ambiente e qualidade de vida. ”

O Ministério do Desenvolvimento Regional vem coordenando estudos para criar uma Carta Brasileira para Cidades Inteligentes, tendo como princípio o “uso responsável e inovador da transformação digital para um desenvolvimento urbano sustentável e inclusivo”.  Para o Ministério, as Cidades Inteligentes são aquelas “comprometidas com o desenvolvimento urbano e a transformação digital sustentáveis, em seus aspectos econômico, ambiental e sociocultural”. Para isso devem ser tratadas de forma planejada, inovadora, inclusiva e em rede. Busca também promover o letramento digital, a governança e a gestão colaborativas”. As tecnologias devem ser usadas para “solucionar problemas concretos, de forma a criar oportunidades, oferecer serviços com eficiência, reduzir desigualdades, aumentar a resiliência e melhorar a qualidade de vida de todas as pessoas, garantindo o uso seguro e responsável de dados e das tecnologias da informação e comunicação”.

Tudo isso é muito bonito, interessante, cativador e desejável. Mas, quão distante nossas cidades estão desses tantos aspectos?  Este texto não ousa abranger todo o tema. Para início de conversa, não vejo como uma cidade pode ser chamada de inteligente se não começar a tratar disso na base, na garantia de educação de qualidade para todos, que inclua além do uso da tecnologia atualizada, a capacitação para a cidadania, ensino de filosofia e educação para ética. Não é possível chamar nenhuma cidade de inteligente, se os seus gestores não desenvolvem eficazes políticas públicas, não elaborem   projetos de curto, médio e longo prazos; para otimizar os custos gastando bem e para reduzir os abismos físicos, econômicos e sociais. Sob pena de virar apenas mais um modismo passageiro, superficial, essa tal da cidade inteligente tem de ser formada por cidadãos e por gestores inteligentes com o interesse público prioritário e democrático.


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