Temas de discussão: Arquitetura e Urbanismo. Planejamento Urbano. Patrimônio Histórico. Futuro das cidades. Pequenas e médias cidades. Architecture and Urban Planning. Heritage. The future of the cities.
29 dezembro 2022
27 dezembro 2022
ESCRAVIDÃO - VOLUME III
26 dezembro 2022
UMA DAS OBRAS PRIMAS DO ROCK PROGRESSIVO
23 dezembro 2022
VIÇOSA TURÍSTICA
VIÇOSA TURÍSTICA
Aparentemente, Viçosa não é uma cidade turística, mas bastou observar o que aqui aconteceu nas últimas semanas para contrariar essa ideia. Viçosa se mostra extremamente receptiva, animada, pulsante. Não há marasmo nesta cidade. Não há uma estimativa de quantas pessoas vêm a Viçosa em um ano sem pandemia, gostaria de saber, mas chuto, com chance de estar subestimando, algo na casa das 100.000.
Para perceber como Viçosa recebe gente, é só lembrar que tivemos, a cada fim de semana, desde novembro, milhares de visitantes para os Bailes de Ex-alunos, o ENEM, o vestibular do Coluni, as festas Nico Loco e Mais louco que o Batman, festival de gastronomia, Festival de Jazz, as festas de formaturas do Coluni, das faculdades particulares, churrascos, missas, celebrações etc. Era só passear pelo centro da cidade e ver o enorme movimento de pessoas, caminhando, frequentando bares e restaurantes, fazendo compras (o doce de leite é o principal alvo), utilizando-se dos serviços de salões de cabeleireiras, buffets, cozinheiros, maquiadoras, manicures, costureiras, fotógrafos, garçons, recepcionistas, seguranças, decoradores, motoristas de vans, de táxis, de aplicativos e entregadores. Floriculturas, gráficas, lavanderias, padarias e lojas de presentes faturam bastante. Em novembro, hotéis estiveram lotados, estacionamentos e postos de combustíveis também arrecadaram. Vários locais de festa e sítios, no entorno da cidade, foram alugados para comemorações de grupos de ex-alunos.
Podemos acrescentar que, durante o ano, há outras festas de formatura, dezenas de cursos e eventos na UFV e na Univiçosa, excursões escolares para visitar os museus no Campus, a Semana do Fazendeiro, a feira das profissões, festas e encontros religiosos como o Seara, festivais de rock, shows de artistas, com muita gente movimentando a economia da cidade. Pais e parentes vêm procurar moradia e comprar móveis para seus filhos estudantes - no ensino médio, nos cursos preparatórios, no ensino superior-, e muitos os visitam esporadicamente. Esses eventos geram e mantém empregos em vários setores, desde serviços gerais até a construção civil. Aqui é local de visitas de muitos amigos. É claro que há alguns problemas, excessos que geram conflitos, como aglomerações incômodas, barulho e muito lixo nas ruas. Eventualmente, os serviços de saúde ficam sobrecarregados, o consumo de água e a produção de lixo aumentam significativamente. Não dá para impedir as comemorações, os afloramentos dos hormônios, os desejos de encontros das galeras e das tribos.
O calendário de eventos em Viçosa é rico e benéfico para a economia local e para a imagem da cidade, essa conhecida mesmo em lugares muito distantes. É, sem dúvida, uma cidade turística, muito atrativa, mas nem tanto atraente, com exceção do Campus mais bonito do Brasil. Quem aqui vem leva uma boa impressão, mas há ainda o que melhorar. Alguns ajustes para essa convivência são necessários, como a discussão entre a administração municipal, a UFV, as faculdades particulares e a comunidade, sobre as oportunidades que essa atratividade propicia, sobre a preparação para tantos eventos e sobre as necessidades de melhorar, de criar espaços e atividades para as dezenas de milhares de visitantes, assim como para os milhares de jovens que habitam Viçosa.
17 dezembro 2022
QUITO, EQUADOR
10 dezembro 2022
04 dezembro 2022
DIVINÉSIA-MG
03 dezembro 2022
POLÍTICA NACIONAL DE HABITAÇÃO
Artigo publicado no jornal Folha da Mata, Viçosa-MG, em 01 dez. 2022.
Artigo escrito com a colaboração da Profa. Carolina Moreira, do DASU/UFV.
No primeiro discurso em que Luís Inácio Lula da Silva fez, após a vitória nas eleições de 2022, foi mencionada a volta do programa Minha Casa Minha Vida (2008-2018), parte da política nacional de habitação de interesse social no período em que o Partido dos Trabalhadores esteve no poder. A retomada desse programa é uma esperança, já que a redução do déficit de habitações brasileiro é um dos grandes desafios públicos. O programa não alcançou o sucesso esperado, e, da forma com que foi conduzido, sem enfrentar as relações sociais de produção capitalistas, acabou por produzir segregação socioespacial, aumentando a injustiça social nas nossas cidades. Foi um programa importante, mas que precisa ser avaliado e revisto.
Segundo o Ministério do Planejamento, o programa produziu quase 1,4 milhão de unidades habitacionais entregues, desde seu início até 2013, contudo a necessidade de habitação cresceu 5,81% entre 2008 e 2013. Ao serem investidos maciços recursos na produção do espaço, promoveu-se a valorização do custo da terra, acarretou o aumento dos aluguéis e dos gastos de aluguel das famílias com renda de três salários-mínimos, elevando-se assim o déficit habitacional. Segundo a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas – FIPE, entre 2008 e 2013, houve uma elevação nos preços dos imóveis num ritmo anual de 20% a 30%. Essa elevação do valor dos imóveis exigiu mais reservas dos que querem adquirir a casa própria e acabou por afastá-los das áreas centrais das cidades, para áreas deficientes de infraestrutura, de transportes e de oferta de postos de trabalho. Houve outros problemas: erros na execução dos projetos; falta de fiscalização; baixa qualidade do material construtivo. Segundo a arquiteta e urbanista Raquel Rolnik, “o protagonismo das construtoras na proposição de projetos e na seleção de terrenos relegou a inserção urbana dos conjuntos habitacionais a uma questão de relevância secundária, ou mesmo inexistente”. Ainda segundo Rolnik, “a construção de grandes conjuntos habitacionais em áreas periféricas onde a terra é mais barata”, a infraestrutura é precária, representa a forma de provisão habitacional predominante em décadas, o que contribui “substancialmente para impulsionar o espraiamento urbano, a proliferação de um padrão urbanístico monofuncional e o estabelecimento de uma divisão territorial entre ricos e pobres”. Acrescento aqui que, com o espraiamento, ficam os vazios urbanos, que são valorizados sem cumprirem sua função social.
Devemos lembrar que o Estatuto da Cidade, esquecido nos últimos anos, nos oferece caminhos, por meio da aplicação de vários instrumentos urbanísticos, para montar uma estratégia global para disponibilizar terras bem localizadas nas cidades. Há o consórcio imobiliário; a implantação das Zonas de Especial Interesse Social em área urbanas vazias dotadas de infraestrutura e a tríade: parcelamento, edificação e utilização compulsórios, o IPTU progressivo no tempo e a desapropriação com pagamento em títulos da dívida pública. O Poder Público pode obter terrenos para utilizar os recursos para habitação, por meio do direito de preempção, a desapropriação, dação em pagamento ou a concessão de direito real de uso.
O Programa, além de promover o acesso à casa própria, representou um passo importante no aspecto da cidadania, mas deixou lacunas para necessários aperfeiçoamentos. O problema da habitação vai muito além da casa, requer acesso a serviços e equipamentos públicos, tais como transporte, escola, emprego, saúde, acesso a serviços e áreas de lazer. Habitação social vai muito além de um conjunto de casas; precisa estar no meio da cidade ou levar a cidade junto. Eis um enorme desafio para o próximo governo.
Imagem:
https://www.vivadecora.com.br/pro/habitacao-social/