24 novembro 2024

FORMATURA ESPETACULARIZADA

Artigo publicado no jornal Folha da Mata, em 21/11/2024.

Infelizmente, sinto no ar, algo de preocupante rondando uma estrutura de um grande negócio que é a organização das festividades de formatura dos estudantes da UFV.  Tal estrutura movimenta centenas de milhares de reais. Recentemente publicaram que a formatura de julho de 2025 corre o risco de não acontecer por causa da baixa procura dos estudantes pelos pacotes das festas; devido ao altíssimo custo dos insumos e serviços envolvidos na organização. O ciclo da cerimônia do formato que se apresenta pode estar chegando ao fim. 

O processo exclui a maior parte dos formandos; aos poucos, os homenageados e até mesmo os parentes, que gostariam de dividir esse momento tão importante. A UFV entra com uma maravilhosa estrutura física, fica em franca desvantagem, para que alguns setores se deem bem. Isso acontece ano após ano. Sou a favor de comemorar, e muito, as vitórias cheias de dificuldades, as trajetórias, a enfrentadas para a formação dos estudantes. Pode ter baile, churrasco, abraços, músicas (só das boas), Aula da Saudade, fotos mil. Isso os alunos merecem, mas tudo tem limites e o que vem acontecendo de longe já os ultrapassou. As abastadas e esnobes solenidades excluem a maioria das pessoas, que deveriam estar juntas, comemorando tão importante passagem. Isso tudo é antiético.

Os custos das festividades de formatura mudaram até a forma de homenagear as pessoas. Antes, os três homenageados - professor, professor da aula da saudade - e funcionário ganhavam dois convites cada, para o churrasco e para o grande baile. Essa cortesia foi diminuindo por causa dos contínuos cortes de gastos (em cima dos homenageados!), até que não há mais convites para nenhum deles. É uma economia justo em cima daqueles que contribuíram na formação dos graduandos. Ao mesmo tempo ocorre a competição por vestidos, penteados e maquiagens mais caros; aumenta-se o número de bandas (mais conhecidas, melhor!). Inventaram que festa boa tem de ter cascatas de chocolate, drinques caros, camarões aos montes (e música de baixa qualidade). Tais custos excessivos discriminam muitos formandos com menos renda, limitam o número de parentes sortudos que podem pagar e promovem a venda de convites a um altíssimo preço no mercado negro.

Até quando nós vamos ficar fingindo que está tudo bem? Não, não está tudo bem! Visível, escancarado mesmo é o desperdício, a valorização excessiva da matéria, a espetacularização excludente. Não é isso que ensinamos na universidade. Há muito a ser discutido; muita coisa a ser mudada. O modelo baseado no esbanjamento, na esnobação, na exagerada valorização material já se esgotou. Esses megaeventos inflacionados preocupam apenas a um mercado que chegou ao limite. Voltemos ao que deveria ser o ritual de formatura: um ritual de passagem, com muita celebração (sempre!), mas mais acessível, mais simples, mais fraterno, mais democrático e mais humano. Será bom para a imagem da UFV, bom para Viçosa e bom e servirá como mais uma lição para a formação do caráter todos os formandos. Talvez seja a hora da UFV pensar em estabelecer regras para que as festas não sejam tão discriminatórias. A melhor lição deixada da formatura de meados de 2024 não foi o churrasco, nem o luxuoso baile.  Foi a da família de uma graduanda, que enfrentou uma viagem de mil quilômetros, num automóvel (de uma marca que não se fabrica há muitos anos), escrito no vidro “indo formar nossa filha – Viçosa – ARQ”. Esse episódio sim não tem preço.


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