01 junho 2025

CURITIBA: 60 ANOS DE PLANEJAMENTO


Artigo publicado no jornal Folha da Mata, Viçosa-MG, em 29/05/2025

 Acabo de voltar de Curitiba, depois de passar alguns dias naquela bela cidade. Curitiba é muito conhecida, nacional e internacionalmente; é “cantada e decantada” por suas muitas qualidades urbanas. Tem parques urbanos lindos; ficou famosa por ter construído o primeiro calçadão do país (a Rua das Flores) e pelo sistema de transporte coletivo – conhecido como “ligeirinho” e suas estações-tubo. O zoneamento urbano possibilitou maior adensamento residencial ao longo dos eixos estruturais previstos, atendidos por um eficiente sistema de corredores de transporte.

A capital paranaense é tida como a cidade com a maior quantidade de área verde por habitante (60 m²) do Brasil. É um dos dez maiores IDHs – Índice de Desenvolvimento Humano – do país. Tem uma rede viária com amplas avenidas e ruas largas, além de zonas de velocidade reduzida. É uma cidade com ruas muito limpas. Tornou-se exemplo de planejamento e gestão urbana, seguido por metrópoles sul-americanas, como Bogotá e Medellín. Curitiba tem seus méritos, mas também seus problemas, pois faz parte de uma aglomeração com 3,5 milhões de habitantes, da qual contribui com metade da população. Precisa descartar seu lixo em um município vizinho; no entanto, trata 100% do esgoto, e a água da torneira é perfeitamente potável. Precisa substituir grande parte de suas calçadas em pedra por materiais acessíveis e ampliar sua rede cicloviária.

Acima de tudo, é uma cidade planejada ininterruptamente. Isso acontece há 80 anos, desde o Plano Agache, e há 60 anos – sim, 60 anos! – desde a criação do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC), em 1965. Um dos criadores da autarquia foi o professor, arquiteto, engenheiro civil, urbanista e político brasileiro Jaime Lerner. Lerner foi, por três vezes, prefeito de Curitiba e, por dois mandatos, governador do Paraná. Atualmente, o IPPUC – que inspirou muitas outras cidades brasileiras (como, por exemplo, os extintos IPLAM, de Viçosa, e o IPPLAN, de Juiz de Fora) – conta com cerca de 100 técnicos trabalhando no planejamento urbano de Curitiba. A cidade teve seu Plano Diretor, coordenado pelo arquiteto Jorge Wilheim, aprovado em 1966. O plano foi revisado em 2004, 2014 e, novamente, em uma revisão iniciada em 2025. Há um processo contínuo de monitoramento e implantação do plano. Permanece a prática de pesquisas, com a incorporação de inovações. Isso demonstra seriedade e mostra que, em Curitiba, o planejamento urbano é levado a sério há décadas, independentemente da corrente ideológica no poder.

Em Curitiba, participei de um evento (XXI Enampur) – o maior realizado até hoje – sobre planejamento urbano, com cerca de 2.000 colegas que se dedicam ao estudo e ao trabalho sobre cidades, apesar das inúmeras dificuldades de ordem técnica e política que enfrentam cotidianamente. São colegas de todas as partes do país, que veem com preocupação as cidades – desde as pequenas até as metrópoles – com seu desenvolvimento sob as pressões do neoliberalismo, que está gerando uma nova forma de cidade, mais injusta e segregada do que nunca. Assim como eu, urbanistas foram à cidade icônica para refazer suas energias, para voltar e lutar por cidades melhores, para achar caminhos nestes tempos em que quem planeja é o setor financeiro.

Foto Ítalo Stephan, maio de 20925

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