segunda-feira, 12 de abril de 2010

Lições esquecidas

Diante de tantas tragédias, é desnecessário dizer que todos sabem quem são os culpados, o que nao pode ser ocupado, o que o planejamento urbano condena.
Como disse a colunista Míriam Leitão, no jornal O Globo de 11 de abril: não foi a chuva que matou tanta gente. Ela apenas revelou a imprevidência dos administradores. Essa sim matou muitos. E deve continuar matando, ora no Rio, ora em Santa Catarina, ora em Minas, Bahia etc. As milhares de construções que se equilibram fragilmente nas encostas ou às margens dos rios descerão um dia "mais chuva, menos chuva, mais dia menos dia".
País afora, as leis, argumentos técnicos são ignorados por prioridades políticas, pela corrupção. Quantos pareceres encontram-se em gavetas enquanto tratores e heróicos bombeiros removem corpos dos desabamentos em áreas de proteção ambiental ou nos ex-lixões. A imprevidência dos administradores públicos parece simplesmente apostar que, com tanta gente correndo risco, só em alguns casos terão o azar das tragédias acontecerem sob suas barbas. Os que ocupam áreas condenadas contam com a ajuda dos céus, que se Deus quiser nada lhes acontecerá.
Os políticos não deixam de lançar programas habitacionais eleitoreiros, mas esquecem que dentre as casas que irão distribuir poderiam estar as para os moradores removidos de áreas de risco. A culpa não é de quem construiu em cima de um lixão ou na encosta perigosa. Eles são vítimas sem opção, sem orientação ou oferta de moradia decente em local seguro.
Para Míriam há a oportunidade de mudar as coisas: para "momentos extremos exigem escolhas radicais", pois chegamos ao abismo e podemos aprender com estas lições. Queria ser otimista como ela, mas, como técnico, não creio.
Depois de alguns meses tudo voltará a ser esquecido. As manchetes e as tragédias serão outras, talvez os governantes outros. Como aconteceu em Santa Catarina, apenas pequena fração de tanta ajuda prometida durante a comoção de um ano e meio atrás. Assim foi na mineira Miraí. Assim será na Ilha Grande, Gaspar, Morro do Céu, Cantinho do Céu, Morro dos Prazeres...
Quantas tragédias mais serão necessárias? Já passou da hora de ver e ouvir o que as chuvas mostraram.

Um comentário:

  1. Oi, professor.
    Ótimo texto. Aliás, muito atual.
    Porque não o envia para o leitores@tribunademinas.com.br. Seria uma boa discussão
    Um abraço
    Fernanda Leonel

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