sábado, 3 de agosto de 2013

Artigo de 2000: BURLE MARX: UMA HOMENAGEM INDEVIDA

Para lembrar:


Out door colocado após a segunda vez que a obra causou uma enorme rachadura na principal avenida da cidade, e após laudos técnicos acusarem a má qualidade das fundações. Foto de 2000

Ao mesmo tempo em que continua-se a discutir as propostas para a legislação urbanística para Viçosa, já tendo sido aprovados o Plano Diretor, a lei de Ocupação, Uso do Solo e Zoneamento, no momento sendo discutida a lei de Parcelamento do Solo, corre-se contra o tempo com a construção de várias edificações agressivas aos cursos d’água e aguarda-se a decisão da justiça a respeito de uma dessas obras, que faz uma inadequada homenagem a um grande arquiteto paisagista brasileiro.

Há dois anos iniciava-se um problema a mais na cidade, com o início de uma obra enorme, em frente às Quatro Pilastras, entrada do Campus da UFV, aprovada irresponsavelmente pela prefeitura, que se rendeu a uma escandalosa licença dada pelo que deveria ser um órgão de preservação do meio-ambiente. O IBAMA Regional considerou o Ribeirão como um filete de esgotos. Esta situação, no momento sendo avaliada pelo Ministério Público, está se agravando, pois o processo corre contra o tempo, simultaneamente com o ininterrupto trabalho da obra. Esta obra denominada Condomínio Burle Marx, canalizou o Ribeirão São Bartolomeu, principal fonte de água para a cidade, e pretende deixar entre os dois prédios projetados, uma faixa de quinze metros de largura apresentada como área pública, desrespeitando a Lei Federal 6766. Para obter-se a licença esta área quatro metros abaixo do nível da rua foi considerada de interesse público por alguns vereadores. Serão 240 apartamentos com o número de vagas de estacionamento sub-dimensionado.


Vista aérea do terreno (à esquerda) após a execução da canalização e a destruição da vegetação às suas margens, autorizadas pelo IBAMA regional. À direita o belo Campus da UFV - Foto de  2000

No editorial de 21/05/2000 do Jornal do Brasil, intitulado "Cidades Enfermas" enfatiza-se um assunto que veio para ficar: a questão do mau uso dos nossos recursos hídricos. Metrópoles como São Paulo e Recife sofrem, a partir desta época do ano, com o racionamento de água, causado pela estiagem, pela falta de planejamento e pela destruição dos mananciais. Há poucos dias vimos a situação de outras cidades com situações críticas, alterando até mesmo os hábitos de toda população. Um ano após o problema ressurge maior ainda. Este problema deve ser considerado também aqui em Viçosa, visto que além de se aproximar o período de seca, onde o racionamento parece ser inevitável, e muitos os danos causados aos cursos d’água.

Ao mesmo tempo, há uma correria na elaboração de projetos que querem aproveitar as últimas brechas da ausência de leis, e que poderá trazer, além de um grande número de imóveis no mercado imobiliário, pensados com muito pouca inteligência, mais problemas para os nossos sofridos meio ambiente e trânsito. Ao prefeito foi recomendado redobrar atenção neste momento. Aos construtores e projetistas recomenda-se o uso de bom senso, que atuem em cima da ética, que a cidade agradecerá. Há a urgência de se reativar o CODEMA local e de se aplicar a política do Meio Ambiente constante no Plano Diretor do Município de Viçosa. A água não é um produto inesgotável. Acabou-se o tempo em que dela podia-se usar e abusar, temos que trabalhar com uma realidade em que, se não forem tomadas as providências, e dentre eles está a educação, os prejuízos serão inexoráveis.


Enquanto corre o processo no Ministério Público, as obras prosseguem, outras construções vizinhas são concluídas às margens do ribeirão e as pessoas continuam a pescar onde é jogado todo o esgoto produzido no Campus. Foto de 2000.

Roberto Burle Marx, o maior paisagista de nosso século, não merece a homenagem a ele prestada. Com inúmeras obras espalhadas pelo Brasil e pelo mundo, Burle Marx ficou conhecido pelo projeto do Aterro do Flamengo. Também foi autor de inúmeros projetos em Brasília, Cataguases, Tiradentes, etc.. Jamais, em vida, ele admitiria ter seu nome eternizado em uma obra tão maléfica para uma cidade. Se os prédios forem construídos da forma proposta serão um símbolo maior de uma época onde a especulação venceu o frágil meio ambiente. Se a justiça não o permitir, também será um símbolo de uma época mudanças ainda em tempo para revertermos o quadro.


Que não hajam mais exemplos que coloquem a cidade sob riscos tão sérios. Mais que nunca daqui para frente há uma necessária revisão da forma de se intervir em Viçosa. Mais que nunca precisamos de pessoas comprometidas com o planejamento da cidade e acima de tudo com a ética profissional. Mais que nunca se torna essencial o acompanhamento mais de perto da Universidade, como uma excepcional parceira que é, através de sua administração. Que Burle Marx perdoe os pecados dos simples mortais.

Um comentário:

  1. Pois é, a "obra" foi edificada e os trouxas fizeram papel de palhaço... já está eternizado na história de Viçosa o nome daqueles que destruíram e continuam a destruir a linda cidade de Viçosa... o pior é que são nativos. Os forasteiros,como nos chamam, são os que mais brigam para impedir que a calamidade seja instalada, mas, infelizmente, o poder da política partidária, que atende aos interesses apenas de pequenos grupos continua a prevalecer, ajudado pelos votos dos ingênuos e ignorantes. É uma pena que há pessoas em Viçosa que se aproveitam disso... e é contra tudo isso que lutamos e continuaremos a lutar, para acabar com a safadeza do aproveitamento dos partidos políticos para benefício de corruptos...

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