31 março 2014

VIÇOSA, UMA CIDADE REFÉM DA UFV.

O texto tem alguns pontos polêmicos no texto de Alex Andel, mas explicita um ponto crucial: UFV e Viçosa não conversam!

VIÇOSA, UMA CIDADE REFÉM DA UFV.
Localizada na Zona da Mata Mineira, Viçosa está á 225 km de Belo Horizonte, tem sua economia baseada principalmente nos salários dos servidores federais e municipais, da Universidade Federal de Viçosa e da Prefeitura Municipal, além do mercado imobiliário já em sinal de clara decadência, comércio local e quase nada da agricultura. Quando se fala no município, uma das primeiras lembranças é a Universidade Federal de Viçosa, legado deixado pelo viçosense mais ilustre, o presidente da república Arthur da Silva Bernardes.
Inaugurada na década de 20, a UFV, que já foi símbolo de desenvolvimento econômico na região, enfrenta hoje, crises crônicas na estrutura institucional: greves de servidores seqüenciais, terceirização em massa dos seus serviços, sucateamento da estrutura técnica, distanciamento dos problemas locais e conseqüente comprometimento na qualidade do ensino. Mesmo assim, inaugura novos prédios, abre novos cursos, numa clara continuação da política de propaganda expansionista adotada por ex-acadêmicos, que usam a UFV como “escadinha particular” para alcançarem altos cargos oferecidos pelo governo federal.
Exemplo desta política são os novos cursos abertos quase anualmente, que, sem concurso para novos servidores federais, e sempre contratados via terceirizadas ou através da FUNARBE, num desafio gritante às leis vigentes. Outro problema crônico provocado pela inércia da Instituição frente às aspirações locais é percebido através da clara dificuldade que cidade demonstra para acompanhar o crescimento da sua ilustre filha.
O Fundo de Participação Municipal (FPM), principal fonte de recursos da prefeitura, é um bom exemplo disso: tem como base apenas 73.333 habitantes, segundo o último senso realizado, porém, além deste número, Viçosa tem mais 20.000 estudantes, sendo 15.000 da UFV e 5.000 de faculdades particulares. E pior, a imagem de cidade pólo atraí pessoas de várias regiões circunvizinhas, alcançando número em torno de 150 mil pessoas.
Considerada uma das mais importantes instituições de ensino público do Brasil, a UFV já beneficiou grandes empresas, e foi escola de grandes nomes em vários setores no País e do mundo, mas, desconsidera totalmente o seu papel no seu próprio município, através de atitudes separatistas, e na maioria das vezes discriminatórias à população do município. Fato dificilmente admitido publicamente, nem pela Instituição, nem pelos administradores do município, devido à dependência que coloca Viçosa refém da UFV.
O atual aparelhamento partidário da Instituição fechou de vez as quatro pilastras à cidade. Imaginem um centro de ensino científico, distribuidor de pesquisas e conhecimentos valiosos para o mundo, extraídos do trabalho de viçosenses, mas não desenvolve nenhuma atividade real de extensão comunitária considerável ao desenvolvimento municipal? Vão citar que vem aí o PRONATEC, outro programa às pressas do governo federal encampado pela UFV.
Existem algumas ações que no final se tornam um aglomerado de estagiários, outra questão social complicada no município. Em grande número, estes “escraviários”, como são chacoteados até por seus professores, se sujeitam a serviços em perfeitas condições de vínculo empregatício devido às suas exigências acadêmicas, substituindo trabalhadores locais que não conseguiram entrar na Universidade e precisariam entrar no mercado de trabalho. Isso acontece numa total inércia das autoridades e o silêncio absoluto da imprensa local, resultantes da dependência econômica destas, que preferem exaltar a beleza, a história e as descobertas da Universidade, que denunciar os resultados drásticos que esta dependência imposta pela ditadura Ufeviana está provocando na qualidade de vida da população local.
Uma das crises recentes foi quase fechamento do atendimento emergencial do Hospital São João Batista, não acontecendo devido à intervenção do governo estadual que disfarçou a situação, mas não resolveu. Sabe-se que devido à falta de entendimento da administração da UFV com o município, viçosenses perderam a oportunidade de ter um dos melhores hospitais universitários da região.
Um dos vários exemplos desta estratégia administrativa discriminatória são os dois únicos espaços de eventos públicos existentes. Poucos sabem: o parque de exposições e espaço aberto de eventos, que vivem trancados criando mato, moscas e cobras, são da UFV. Enquanto a população é obrigada a conviver com as festas de estudantes fechando ruas do município, como a avenida Santa Rita, uma das principais vias centrais, totalmente à margem da lei.
Lembrando que sempre que a prefeitura precisa de um dos espaços para realização de festas tradicionais para a população, os espaços são usados como moeda de troca ou então são impostas tantas dificuldades que tornam impossível a realização de eventos para a população.
Tamanha a força e medo da ditadura da atual administração da Universidade Federal de Viçosa, até sob seus universitários, servidores e professores, ficou explicita no período das manifestações. Grupos de estudantes, muitos de outras cidades, totalmente desengajados da política local, saíram às ruas reivindicando mudanças na prefeitura municipal, principalmente na saúde, mas a UFV, foi uma das únicas universidades públicas do Brasil que não teve qualquer manifestação dentro do seu campus, apenas algumas fitas pretas amaradas em árvores do campus, mesmo assim em silêncio e às escondidas, evitando-se represálias.
O município de Viçosa enfrenta crises na segurança, educação, saúde, administração, inclusive com a cassação de um prefeito e outro recorrendo no cargo, crise social, econômica, e ainda carrega o fardo de ter que enfrentar sem nenhum apoio, problemas que poderiam ser mais estudados e pensados se a UFV cumprisse seu papel no desenvolvimento municipal. O município enfrenta sérios problemas ligados ao consumo exagerado de bebidas alcoólicas, em proporção por habitante, a cidade é uma das principais consumidoras de bebidas alcoólicas do Brasil, sem falar em drogas, com forte impacto social deste fato na população local.
Atos de vandalismo e depredação do patrimônio público, acidentes de trânsito, desrespeito à lei do silêncio, principalmente nos freqüentes eventos de bebidas liberadas organizados por comissões de estudantes, recheando os dois únicos hospitais da cidade de pessoas bêbadas, demandando um policiamento que o município não tem, e mesmo assim, quando chamada ao debate, a atual direção da Universidade insiste na omissão: “o que acontece fora do campus não é problema da administração da Universidade”. Omissão que proporciona à população resultados assustadores e nunca divulgados com responsabilidade.
Em dias de festas universitárias, estudantes caminham lameados feito zumbis pelas ruas; representantes de universitários pleiteando na Câmara Municipal a extensão do horário de funcionamento dos bares de 2 para as 4 horas da manhã. Cenas reais que os viçosenses da cidade “educadora” têm que conviver e lutar para que seus filhos não sejam levados nesta aberração social disfarçada de alegria, resultante do viciamento gradativo desses jovens.
Ao questionar a situação com administradores do alto escalão da UFV a resposta é padrão: “A Universidade é feita para ensinar seus alunos e não administrar o município.”. Uma omissão temerosa na formação desses milhares de profissionais, pois o ensino acadêmico, tem como base a formação humana do profissional, que somente é possível, através da inserção destes nos problemas da comunidade, talvez seja este o verdadeiro motivo de serem raros novos “Arthur Bernardes”. Atualmente 90% dos servidores da UFV são moradores do município e dependem de uma vida de descanso digna para exercerem seu trabalho, mas muitos na direção da Universidade agem como se Viçosa estivesse contida nela, e não o inverso.
Não existe aqui intenção de colocar população contra os estudantes, ou vice-versa. Muitos estudantes já expressaram publicamente que gostariam de ajudar mais o município, entretanto esbarram nas ações separatistas da administração da Universidade, que nunca diz não, mas impõe tantas dificuldades e exigências tornando ações positivas ao município quase impossíveis de serem executadas. Fazendo de Viçosa cada dia mais refém da Instituição.
Longe da intenção do autor desconsiderar todos os benefícios que a UFV já proporcionou à cidade e seus munícipes. Tenta-se apenas alertar as pessoas desatentas e embriagadas com o marketing da UFV, este sucesso foi construído através do esforço e abdicação de muitos da população, que cederam suas casas e costumes a seus visitantes. Hoje esta dependência criou uma situação insustentável para o município que não acompanha o crescimento da UFV.
Devido o texto alongado, nesta oportunidade não destacaremos agora a verdadeira “caixa preta” da instituição: verbas milionárias de pesquisas financiadas por instituições públicas e privadas, quase nunca fiscalizadas, gerando negócios bilionários, professores empresários com fortunas incompatíveis com seus salários, às custas do desgaste da qualidade de vida local. Exemplo destes fatos, janeiro de 2014, enquanto a inflação do País foi de 0,55%, em Viçosa a inflação atingiu 3,63%. O acumulado nos últimos 12 meses em Viçosa ficou em 11,15%.
Talvez para que fatos como estes sejam sempre abafados a eleição para Reitor na UFV seja determinante, e mexe com o viçosense e o País. Pessoas atentas notam figuras novas em fotos que não eram vistas há bastante tempo, confirmando a máxima: “quem não é visto, não é lembrado”, num claro tom de campanha na Instituição, sempre muito silenciosa, devido o medo das represálias da ditadura Ufeviana, que em breve destinará o futuro de muitos viçosenses e outros brasileiros.
Lembra-se neste momento do argumento de um professor da própria UFV, numa de suas palestras sobre os benefícios e problemas dos reflorestamentos à base de eucalipto: “o eucalipto é o futuro da economia, gera energia e pode ser usado como matéria prima para indústria de base, mas onde ele se desenvolve mata todas as plantas à sua volta, consumindo inclusive muita água do terreno onde foi plantado.” Falando em água, esta é outra crise municipal atualíssima, e pior, passa dentro da UFV, mas isso é outro assunto.
Alex Andel – Jornalista, radialista e advogado.

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