O texto tem alguns pontos polêmicos no texto de Alex Andel, mas explicita um ponto crucial: UFV e Viçosa não conversam!
VIÇOSA, UMA CIDADE REFÉM DA UFV.
Localizada
na Zona da Mata Mineira, Viçosa está á 225 km de Belo Horizonte, tem
sua economia baseada principalmente nos salários dos servidores federais
e municipais, da Universidade Federal de Viçosa e da Prefeitura
Municipal, além do mercado imobiliário já em sinal de clara decadência,
comércio local e quase nada da agricultura. Quando se fala no município,
uma das primeiras lembranças é a Universidade Federal de Viçosa, legado
deixado pelo viçosense mais ilustre, o presidente da república Arthur
da Silva Bernardes.
Inaugurada
na década de 20, a UFV, que já foi símbolo de desenvolvimento econômico
na região, enfrenta hoje, crises crônicas na estrutura institucional:
greves de servidores seqüenciais, terceirização em massa dos seus
serviços, sucateamento da estrutura técnica, distanciamento dos
problemas locais e conseqüente comprometimento na qualidade do ensino.
Mesmo assim, inaugura novos prédios, abre novos cursos, numa clara
continuação da política de propaganda expansionista adotada por
ex-acadêmicos, que usam a UFV como “escadinha particular” para
alcançarem altos cargos oferecidos pelo governo federal.
Exemplo
desta política são os novos cursos abertos quase anualmente, que, sem
concurso para novos servidores federais, e sempre contratados via
terceirizadas ou através da FUNARBE, num desafio gritante às leis
vigentes. Outro problema crônico provocado pela inércia da Instituição
frente às aspirações locais é percebido através da clara dificuldade que
cidade demonstra para acompanhar o crescimento da sua ilustre filha.
O
Fundo de Participação Municipal (FPM), principal fonte de recursos da
prefeitura, é um bom exemplo disso: tem como base apenas 73.333
habitantes, segundo o último senso realizado, porém, além deste número,
Viçosa tem mais 20.000 estudantes, sendo 15.000 da UFV e 5.000 de
faculdades particulares. E pior, a imagem de cidade pólo atraí pessoas
de várias regiões circunvizinhas, alcançando número em torno de 150 mil
pessoas.
Considerada
uma das mais importantes instituições de ensino público do Brasil, a
UFV já beneficiou grandes empresas, e foi escola de grandes nomes em
vários setores no País e do mundo, mas, desconsidera totalmente o seu
papel no seu próprio município, através de atitudes separatistas, e na
maioria das vezes discriminatórias à população do município. Fato
dificilmente admitido publicamente, nem pela Instituição, nem pelos
administradores do município, devido à dependência que coloca Viçosa
refém da UFV.
O
atual aparelhamento partidário da Instituição fechou de vez as quatro
pilastras à cidade. Imaginem um centro de ensino científico,
distribuidor de pesquisas e conhecimentos valiosos para o mundo,
extraídos do trabalho de viçosenses, mas não desenvolve nenhuma
atividade real de extensão comunitária considerável ao desenvolvimento
municipal? Vão citar que vem aí o PRONATEC, outro programa às pressas do
governo federal encampado pela UFV.
Existem
algumas ações que no final se tornam um aglomerado de estagiários,
outra questão social complicada no município. Em grande número, estes
“escraviários”, como são chacoteados até por seus professores, se
sujeitam a serviços em perfeitas condições de vínculo empregatício
devido às suas exigências acadêmicas, substituindo trabalhadores locais
que não conseguiram entrar na Universidade e precisariam entrar no
mercado de trabalho. Isso acontece numa total inércia das autoridades e o
silêncio absoluto da imprensa local, resultantes da dependência
econômica destas, que preferem exaltar a beleza, a história e as
descobertas da Universidade, que denunciar os resultados drásticos que
esta dependência imposta pela ditadura Ufeviana está provocando na
qualidade de vida da população local.
Uma
das crises recentes foi quase fechamento do atendimento emergencial do
Hospital São João Batista, não acontecendo devido à intervenção do
governo estadual que disfarçou a situação, mas não resolveu. Sabe-se que
devido à falta de entendimento da administração da UFV com o município,
viçosenses perderam a oportunidade de ter um dos melhores hospitais
universitários da região.
Um
dos vários exemplos desta estratégia administrativa discriminatória são
os dois únicos espaços de eventos públicos existentes. Poucos sabem: o
parque de exposições e espaço aberto de eventos, que vivem trancados
criando mato, moscas e cobras, são da UFV. Enquanto a população é
obrigada a conviver com as festas de estudantes fechando ruas do
município, como a avenida Santa Rita, uma das principais vias centrais,
totalmente à margem da lei.
Lembrando
que sempre que a prefeitura precisa de um dos espaços para realização
de festas tradicionais para a população, os espaços são usados como
moeda de troca ou então são impostas tantas dificuldades que tornam
impossível a realização de eventos para a população.
Tamanha
a força e medo da ditadura da atual administração da Universidade
Federal de Viçosa, até sob seus universitários, servidores e
professores, ficou explicita no período das manifestações. Grupos de
estudantes, muitos de outras cidades, totalmente desengajados da
política local, saíram às ruas reivindicando mudanças na prefeitura
municipal, principalmente na saúde, mas a UFV, foi uma das únicas
universidades públicas do Brasil que não teve qualquer manifestação
dentro do seu campus, apenas algumas fitas pretas amaradas em árvores do
campus, mesmo assim em silêncio e às escondidas, evitando-se
represálias.
O
município de Viçosa enfrenta crises na segurança, educação, saúde,
administração, inclusive com a cassação de um prefeito e outro
recorrendo no cargo, crise social, econômica, e ainda carrega o fardo de
ter que enfrentar sem nenhum apoio, problemas que poderiam ser mais
estudados e pensados se a UFV cumprisse seu papel no desenvolvimento
municipal. O município enfrenta sérios problemas ligados ao consumo
exagerado de bebidas alcoólicas, em proporção por habitante, a cidade é
uma das principais consumidoras de bebidas alcoólicas do Brasil, sem
falar em drogas, com forte impacto social deste fato na população local.
Atos
de vandalismo e depredação do patrimônio público, acidentes de
trânsito, desrespeito à lei do silêncio, principalmente nos freqüentes
eventos de bebidas liberadas organizados por comissões de estudantes,
recheando os dois únicos hospitais da cidade de pessoas bêbadas,
demandando um policiamento que o município não tem, e mesmo assim,
quando chamada ao debate, a atual direção da Universidade insiste na
omissão: “o que acontece fora do campus não é problema da administração
da Universidade”. Omissão que proporciona à população resultados
assustadores e nunca divulgados com responsabilidade.
Em
dias de festas universitárias, estudantes caminham lameados feito
zumbis pelas ruas; representantes de universitários pleiteando na Câmara
Municipal a extensão do horário de funcionamento dos bares de 2 para as
4 horas da manhã. Cenas reais que os viçosenses da cidade “educadora”
têm que conviver e lutar para que seus filhos não sejam levados nesta
aberração social disfarçada de alegria, resultante do viciamento
gradativo desses jovens.
Ao
questionar a situação com administradores do alto escalão da UFV a
resposta é padrão: “A Universidade é feita para ensinar seus alunos e
não administrar o município.”. Uma omissão temerosa na formação desses
milhares de profissionais, pois o ensino acadêmico, tem como base a
formação humana do profissional, que somente é possível, através da
inserção destes nos problemas da comunidade, talvez seja este o
verdadeiro motivo de serem raros novos “Arthur Bernardes”. Atualmente
90% dos servidores da UFV são moradores do município e dependem de uma
vida de descanso digna para exercerem seu trabalho, mas muitos na
direção da Universidade agem como se Viçosa estivesse contida nela, e
não o inverso.
Não
existe aqui intenção de colocar população contra os estudantes, ou
vice-versa. Muitos estudantes já expressaram publicamente que gostariam
de ajudar mais o município, entretanto esbarram nas ações separatistas
da administração da Universidade, que nunca diz não, mas impõe tantas
dificuldades e exigências tornando ações positivas ao município quase
impossíveis de serem executadas. Fazendo de Viçosa cada dia mais refém
da Instituição.
Longe
da intenção do autor desconsiderar todos os benefícios que a UFV já
proporcionou à cidade e seus munícipes. Tenta-se apenas alertar as
pessoas desatentas e embriagadas com o marketing da UFV, este sucesso
foi construído através do esforço e abdicação de muitos da população,
que cederam suas casas e costumes a seus visitantes. Hoje esta
dependência criou uma situação insustentável para o município que não
acompanha o crescimento da UFV.
Devido
o texto alongado, nesta oportunidade não destacaremos agora a
verdadeira “caixa preta” da instituição: verbas milionárias de pesquisas
financiadas por instituições públicas e privadas, quase nunca
fiscalizadas, gerando negócios bilionários, professores empresários com
fortunas incompatíveis com seus salários, às custas do desgaste da
qualidade de vida local. Exemplo destes fatos, janeiro de 2014, enquanto
a inflação do País foi de 0,55%, em Viçosa a inflação atingiu 3,63%. O
acumulado nos últimos 12 meses em Viçosa ficou em 11,15%.
Talvez
para que fatos como estes sejam sempre abafados a eleição para Reitor
na UFV seja determinante, e mexe com o viçosense e o País. Pessoas
atentas notam figuras novas em fotos que não eram vistas há bastante
tempo, confirmando a máxima: “quem não é visto, não é lembrado”, num
claro tom de campanha na Instituição, sempre muito silenciosa, devido o
medo das represálias da ditadura Ufeviana, que em breve destinará o
futuro de muitos viçosenses e outros brasileiros.
Lembra-se
neste momento do argumento de um professor da própria UFV, numa de suas
palestras sobre os benefícios e problemas dos reflorestamentos à base
de eucalipto: “o eucalipto é o futuro da economia, gera energia e pode
ser usado como matéria prima para indústria de base, mas onde ele se
desenvolve mata todas as plantas à sua volta, consumindo inclusive muita
água do terreno onde foi plantado.” Falando em água, esta é outra crise
municipal atualíssima, e pior, passa dentro da UFV, mas isso é outro
assunto.
Alex Andel – Jornalista, radialista e advogado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário