Sou, há vinte e um anos, professor na UFV. Tenho sido homenageado com bastante frequência, como professor da Aula da Saudade. Isso sempre foi motivo de muita alegria e orgulho para mim. No entanto, meu sentimento hoje é de forte decepção.
Como participei de festividades de formatura ao longo desses anos, notei uma mudança muito triste. Até uns sete, oito anos atrás, os homenageados (professor homenageado, professor da Aula da Saudade e funcionário) recebiam os convites, com direito a levar um acompanhante, para o churrasco e o baile. No baile, havia mesas para os homenageados, junto às mesas dos alunos formandos. Ainda nos bailes, poucos anos depois, as mesas dos homenageados foram agrupadas e colocadas longe dos alunos formandos. A seguir, não havia mais mesas para os homenageados e estes tinham de se virar de mesa em mesa. De uns poucos anos para cá, os homenageados não tinham mais direito a levar seus acompanhantes. Há um ano, para ir ao coquetel dos formandos, cobraram-me o ingresso. Na formatura de 2014, mais uma vez me escolheram. Recebi uma cartinha da empresa organizadora informando que os homenageados não mais receberão sequer os convites do baile de formatura, só restando o churrasco, onde não posso levar minha esposa.
Ao mesmo tempo, ao longo dos anos persiste uma infeliz competição de que o baile seguinte tem de ser melhor que o anterior. São indispensáveis a banda mais famosa, a decoração mais luxuosa, as cervejas mais caras, a comida japonesa, as cascatas de chocolate, os sorvetes e as tortas finas. Enfim, não podem faltar vestidos de muito luxo, sushis e sashimis, uísque 21 anos, arranjos florais, máscaras, pulseiras e colares coloridos, apitos e camarões graúdos. A gula, a esnobação, o desperdício material parecem requisitos indispensáveis para o ritual. Só não se pode desperdiçar dinheiro com os professores e funcionários. Os homenageados não são importantes, podem ser descartados. Assim como podem faltar os colegas menos aquinhoados financeiramente, excluídos desta farra há muito tempo. Lembro também que há, para a grande maioria dos pais, uma cota absurda de sacrifícios para dar aos filhos esse luxo.
Minha decepção maior é a de que estes afortunados formandos serão profissionais que terão seus códigos de ética, mas para mim, já os deixam um arranhão ao mal iniciar suas carreiras. Nós, os homenageados, parecemos ser um mero detalhe com algumas curiosidades para serem lembradas, parecemos cada vez mais descartáveis. Nos próximos anos, não teremos os convites para o churrasco, talvez nem Aula da Saudade. Depois serão descartados os avós, a seguir os próprios pais (convenhamos dizer que os bailes são cansativos, barulhentos demais para gente mais velha). Foi-se embora, se é que existiu - talvez seja ingenuidade a minha achar que existiu - alguma intenção de celebração alegre, de confraternização, de despedida, de marca do fim de uma etapa fundamental na vida de quem aqui estudou.
O baile de formatura se tornou apenas um festival de exibicionismo, ostentação, segregação e vulgaridade. A homenagem parece uma mera formalidade. Lamentável. A que ponto chegamos.
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