domingo, 24 de agosto de 2014

CIDADE DOENTE

Artigo publicado no jornal Tribuna Livre, em 20/08/2014

Viçosa, a de Minas Gerais, é uma cidade com mais de noventa mil habitantes. Viçosa recebe pessoas de vários países, de vários estados e de muitas cidades. Sedia anualmente eventos do porte da Semana do Fazendeiro, Graduação na UFV – Decisão de Futuro, bailes de ex-alunos da UFV, seminários internacionais, colações de grau, que atraem dezenas de milhares de visitantes. Recebe parentes dos estudantes. Isso ocorre durante todo o ano. Por isso é uma cidade universitária, mas também uma cidade turística,  embora mal preparada para tal. Viçosa possui um dos melhores IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) de Minas Gerais e é a cidade com a maior relação de doutores (pessoas com doutorado) por habitante no Brasil. Não é uma cidade pobre. É uma cidade plena de recursos humanos, mas paupérrima em projetos e planos.

A cidade nunca teve uma política urbana à sua altura, no entanto, nos últimos anos acentuou-se uma situação de extremo abandono, desleixo, negligência, com fortes indícios de má gestão e corrupção, que culminaram em CPIs, processos junto ao Ministério Público e no desejo de muitos cidadãos em ver encerrado o atual ciclo político-administrativo. A cidade passa por um processo de adensamento via verticalização exagerada, com a produção indiscriminada de milhares de unidades habitacionais, mais concentrada nas vizinhanças da UFV, mas também presente em vários bairros. Recebe o fenômeno da multiplicação de loteamentos com todos os indícios de irregularidades nas áreas urbanas afastadas (Romão dos Reis II, Buiéié, Novo Silvestre) e na área rural (Paraíso, Deserto, Canelas, Palmital). As consequências no futuro são inimagináveis, mas altamente preocupantes. Os custos ambientais são altos, assim como são os custos de atendimento da infraestrutura, da coleta de lixo, da oferta de transporte coletivo e de policiamento.

As vias urbanas se encontram em estado lastimável, há buracos por todas elas e em algumas delas, como as ruas dos Passos, Joaquim Lopes de Faria, Dr. Brito  e Tenente Kummel a situação é escandalosa. Na rua Padre Serafim e na Av. P. H. Rolfs, há sinais de iminentes afundamentos dos pavimentos. O trânsito é péssimo e as soluções de cruzamentos são absurdas, perigosas, como os da avenida Marechal Castelo Branco na altura da rua José Medina Floresta e Joaquim Lopes de Faria. Não há prioridade para pedestres nem para ciclistas, as condições de acessibilidade são pavorosas. O trânsito é resolvido apenas para veículos e motocicletas.

Enfim, a cidade está carente de planejamento, gestão, projetos, obras e fiscalização. É uma cidade que sofre, que está doente. Segue uma mensagem direcionada primeiramente ao prefeito, um médico, e em seguida à sua equipe. Como arquiteto e urbanista, com mestrado e doutorado em planejamento urbano, sou uma espécie de “médico da cidade” e digo que Viçosa está doente; que possui “tumores” crescendo e espalhados por todo o seu corpo, que sofre de “anemia, cardiopatia, má circulação, osteoporose, verminoses, pneumonia, desidratação, amnésia, desorientação, estresse” etc. Está a ponto de sofrer “infarto”, ter um “AVC”,  e chegar à “septicemia”. Portanto, o município carece de “médicos”, “remédios”, “cirurgias”, “vacinas” e um longo “tratamento de saúde”. A cidade tem seu presente prejudicado e seu futuro comprometido.

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