Revisão do Plano Diretor de Viçosa-MG. Reunião na Barrinha, Foto Ítalo Stephan, 2015.
Texto publicado no jornal Tribuna Livre, de 13 de maio de 2015
Parabéns às centenas de cidadãos que participaram das 19 reuniões públicas realizadas, como parte Leitura Participativa da revisão do Plano Diretor de Viçosa. Parabéns aos que deixaram de olhar apenas para seus umbigos seus umbigos; deixaram o conforto da casa; aos que deixaram de lado o cansaço; as frustrações de tantas reuniões passadas sem resultados. Vocês deixaram contribuições que poderão fazer a diferença para os milhares que deixaram seus umbigos manterem a indiferença.
Como uma avaliação preliminar das reuniões públicas, ficou marcante que os moradores de Viçosa, em sua grande maioria, sofrem com uma enorme injustiça social. Para grande parte dos que moram aqui são exigidos esforços físicos que muitos não têm condições para isso. Para os moradores mais humildes, prevalece a precariedade das vias, das calçadas, das travessias das vias, dos pontos de ônibus, das escolas, creches, postos de saúde. Padecem da dependência do transporte coletivo caro – e muito mal avaliado - ou são condenados a andar grandes distâncias, em geral em caminhos perigosos – sem calçadas e iluminação. Há uma significativa parte da população de cadeirantes aprisionados em casa. Para maior parte dos viçosenses, saneamento básico significa apenas o abastecimento de água, às vezes com interrupções e a coleta de esgotos que chega apenas aos imundos cursos d’água. Faltam, na maior parte da cidade, a drenagem urbana, a coleta adequada de lixo e o tratamento dos esgotos. A qualidade da habitação é péssima, pois a população humilde convive com o medo, com o perigo de desbarrancamentos ou enchentes. Ao mesmo sofre com um número excessivo de moradores em casa, com a precariedade das construções, muitas vezes insalubres, pois sofrem de doenças causadas pela umidade, mofo, esgotos, frio no inverno e com a falta de iluminação. Há tantos obstáculos concretos a serem transpostos, que demandas para a cultura nem chega a ser lembradas. Há uma enorme dívida social para com os moradores de Viçosa.
A participação popular foi pequena, aquém do que Viçosa merecia, apesar da ampla divulgação das reuniões públicas nos jornais, em programas das rádios, em cartazes, convites entregues aos estudantes e na internet. Mesmo assim, muitos podem não ter tomado conhecimento dessas oportunidades. Os interessados em participar ainda encontram espaço no facebook (grupo Revisão do Plano Diretor de Viçosa) e haverá pelo menos mais dois amplos debates, um para apresentação da Leitura Participativa - um grande diagnóstico da cidade - e outro, para discutir as propostas e prioridades que farão parte do plano revisto.
É uma pena destacar a ausência da participação do importante setor da construção civil (empreendedores imobiliários, construtores, engenheiros e arquitetos e urbanistas), o mais impactante no meio ambiente daqui. Um silêncio que é uma incógnita: ou está tudo muito bem para eles, mesmo que seja ruim para Viçosa; ou continuarão a atuar mudando a legislação de acordo com interesses pontuais. Parabéns às pessoas, em sua grande maioria de origem humilde, que não hesitaram em contribuir; que pensaram questões não apenas dos problemas de suas casas e suas ruas, que se preocupam com os seus bairros e com Viçosa. Presenciamos emocionantes manifestações de alteridade, de preocupação com a produção da água e com o desmatamento. Viçosa agradece muito aos verdadeiros cidadãos! Esperamos que tanto esforço tenha sua recompensa.
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