12 novembro 2015

SOFÁS E BANANEIRAS


Artigo publicado no jornal Tribuna Livre, Viçosa-MG em 6/11/2015

Estamos vivendo em uma grave crise hídrica, que vem sendo preparada por nós mesmos há vários anos. Ultimamente temos achado mais bonitas as fotos com céu cinzento, carregado, do que as tradicionais com céu azulado. Depois de uma longa estiagem, as chuvas são muito bem vindas. Só que, com elas, vêm as consequências, muitas vezes, trágicas; marcas do despreparo, da ignorância de uma pequena parte da população, que coloca em risco cidadãos, em vários pontos de uma cidade.

Depois de uma chuva forte, daquelas que aguardamos ansiosamente, aparecem vários estragos e sustos. A Defesa Civil é acionada para se deslocar para vários locais da cidade.  Surgem os alagamentos e deslizamentos. A pavimentação de ruas é destruída. Em alguns lugares, casas são destelhadas. Nos locais mais baixos, as águas não encontram o escoamento suficiente e entram nas garagens, lojas e casas.

Há uma série de consequências da urbanização desassistida e ilegal. Apesar de termos leis federais como o Código Ambiental de 1965 e a Lei de Parcelamento do Solo de 1979; além dos planos diretores dos municípios, os proprietários as ignoram. As cidades têm crescido descontroladamente morro acima ou em direção aos cursos de água. Para construir, solta-se terra que assoreia os leitos e se ocupa até as margens para  construção. As matas ciliares são suprimidas. As vias têm sido erroneamente pavimentadas com materiais impermeáveis. Os moradores têm cimentado seus jardins e quintais. Quase não há praças.  Quando chove, as águas escoam em maior volume, pois não são absorvidas em direção ao lençol freático e rapidamente correm em direção às partes mais baixas e precisam achar saídas que deveriam ser bem dimensionadas e estar desobstruídas.

Ao socorrer, a Defesa Civil encontra as causas de problemas que poderiam ser facilmente evitáveis se alguns habitantes tivessem um mínimo de educação cívica. A situação se agrava com o desrespeito. A falta de cidadania fica visível nas bocas de lobo entupidas, principalmente, com garrafas e sacolas plásticas. Areia e brita são guardados nas ruas e escorrem com a chuva. Há ainda mais absurdos.  O que faz um morador descartar um sofá velho, um colchão, uma bacia sanitária em um curso d´água? O que faz um morador cortar árvores e bananeiras e as jogar córrego abaixo?  O que faz um habitante despejar um caminhão de entulho nas margens de um córrego? Para essas pessoas inescrupulosas, o problema passa a ser dos outros. Isso não é ignorância; quem faz sabe o que está fazendo. Isso é desrespeito, é crime. Os responsáveis devem pagar multas pesadas e serem responsabilizadas pelo que fazem.

Não há novidades quando se procura resolver as questões aqui narradas. As soluções são as óbvias de sempre: mais educação para a cidadania, mais educação ambiental e mais punição para aqueles que sabem que estão cometendo graves erros. Seria importante também que a prefeitura fizesse manutenções preventivas nas beiras de córregos, mas mesmo assim não daria conta. Já não nos basta a necessidade de enfrentar o agravamento da crise ambiental que afeta a todos de agora e afetará as próximas gerações?

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