Como uma pequena cidade mineira está impedindo a Vale de erguer uma barragem 10 vezes maior que a de Mariana
Não
se sabe a extensão exata do Vale da Fazenda Velha, conjunto
arqueológico de Rio Acima, município de 9 mil habitantes cercado
por montanhas verdes. O vale fica entre o córrego dos Andaimes e o
rio do Peixe, todos na margem esquerda do rio das Velhas, afluente do
São Francisco que abastece a capital mineira.
Localizado a
7 quilômetros da cidade de Rio Acima, guarda grande riqueza
ambiental num trecho de Mata Atlântica com vários córregos e
remete à história das primeiras ocupações na região nos séculos
XVIII e XIX.
A
Vale S/A está interessada em construir ali uma gigantesca barragem
de rejeitos de minério, mais uma a fazer parte do Complexo Vargem
Grande, sediado em Itabirito, próxima de Rio Acima. Ela terá
capacidade para 600 milhões de metros cúbicos de rejeitos. É pelo
menos 10 vezes maior que a barragem do Fundão, que rompeu em Mariana
no dia 5 de novembro.
“Por
que eles ainda insistem nesse modelo? Tem pesquisas que mostram que
há formas de aproveitar o rejeito. Assim vamos ter de escolher entre
a água e o minério. O minério de todo jeito vai acabar”, me
falava Maria do Carmo, natural de Rio Acima, gestora e ativista
ambiental.
Da
estrada que dá acesso à Fazenda Velha, eu via parte do
Complexo Vargem Grande, com os morros muito escavados. A escolha de
Fazenda Velha se deve ao fato de que, dentre os vales estudados,
entre eles o Do Peixe e o Dos Andaimes, ali havia maior capacidade de
armazenamento e “vida útil” de 20 anos.
Em
2012, a Vale contratou uma empresa para fazer o Diagnóstico
Arqueológico do Desenvolvimento do local como parte do Estudo de
Impactos Ambientais. Segundo a empresa, em nota do dia 11 de novembro
deste ano, “um projeto para instalação de barragem no vale do
Córrego Fazenda Velha, em Rio Acima, está em estudo e a viabilidade
ambiental deste projeto será analisada pela Supram
(Superintendências Regionais de Regularização Ambiental). O
objetivo é a continuidade das operações da Vale nos municípios de
Nova Lima, Itabirito e Rio Acima, que geram empregos e contribuem
para o desenvolvimento da região”.
Não
é o que os habitantes pensam. “Não vem benefício nenhum pro
município, tudo fica em Itabirito, onde é extraído todo o minério.
Para cá vem só rejeito”, me dizia, indignado, Fernando de
Brito, operador de equipamentos.
De
acordo com o projeto da Vale, a barragem poderá ter até 20
alteamentos de 10 metros, e a água drenada do rejeito vai para o
Córrego Fazenda Velha “para manter a vazão mínima deste curso
d’água, conforme prevê a legislação”. A empresa reconhece o
estrago, mas diz que vai compensar com plantações para conter a
erosão.
Em
abril do ano passado, o Movimento Pelas Serras e Águas de Minas
protocolou, junto à Promotoria Estadual de Defesa do Patrimônio
Cultural e Turístico de Minas Gerais, representação noticiando a
ameaça de construção da barragem. No mesmo período, o Conselho de
Patrimônio Cultural e Natural de Rio Acima discutia o processo de
tombamento. O Conjunto Paisagístico, Arqueológico e Natural da
Fazenda Velha, situado na área rural de Rio Acima, teve o
entorno – uma área de 789,2 hectares, tombado provisoriamente no
dia 24 de maio de 2014.
Fonte:
http://www.diariodocentrodomundo.com.br/como-uma-pequena-cidade-mineira-esta-impedindo-a-vale-de-erguer-uma-barragem-10-vezes-maior-que-a-de-mariana
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