PATRIMÔNIO: INTERESSE EM SUA DESQUALIFICAÇÃO
Tudo começou com a mudança de prefeito em 2010. O anterior perdeu o cargo na justiça e o segundo mais votado assumiu. Pressionado a tomar medidas urgentes para melhorar o trânsito nessa cidade de 85.000 moradores e 30.000 veículos, surge, da Secretaria de Trânsito uma proposta de alterar uma rampa que faz parte do Balaústre. Essa estrutura, é uma balaustrada de 480 metros de extensão acompanha um trecho central da linha férrea de Viçosa. Foi tombada e restaurada em 1999.
A intervenção da secretaria visa resolver pontualmente a ligação de um desnível de 2,80 metros, para encurtar em cerca de 200 metros o trajeto de alguns veículos. A proposta prevê uma rampa de 28% de declividade, com 4 metros de largura. Um croquis dessa proposta foi parar no Conselho Municipal de Cultura e Patrimônio Cultural e Ambiental de Viçosa para análise. O conselho, indeciso, definiu por levar a discussão para uma audiência pública.
Enquanto isso, parte da imprensa local começou um trabalho para apoiar O destombamento do Balaústre e desqualificar o Conselho, seus representantes e o próprio patrimônio arquitetônico da cidade..
No editorial de 03/09/2010, Pélmio Carvalho, editor do jornal Folha da Mata, defendendo o destombamento do Balaústre, para desqualificar os membros professores do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Viçosa, disse:
“Por razões sentimentais e por achar que assim deveria ser, podem todos e cada um conservar o seu, mas nunca “achar” que o casarão do ilustre, falecido tem que ser conservado e mantido pelos seus herdeiros, ficando eles, às vezes, a mingua para satisfazer a opinião de alguém que gosta de tomar clister com as nádegas dos outros (grifo meu),. São eles, sem sabê-lo, stalinistas, para quem “o meu é meu o que é seu, podemos discutir”.
Para desqualificar o tombamento afirma “Querem destombar a dita obra que não teve nenhum interesse público para que fosse tombado” e “seria oportuno que se destombasse o trambolho (grifo meu), a apoteose ao mau gosto”.
O mesmo jornal (17/09/2010), comentando sobre uma manifestação organizada por professores do Curso de Arquitetura e um ex-vereador, arquiteto, a qual levou algumas dezenas de professores de outros cursos, alunos e simpatizantes a “abraçar” simbolicamente o Balaústre:
Um pequeno grupo de alunos dos cursos de Arquitetura e Geografia da UFV – entre eles poucos nativos – foram levados a “fazer” um abraço simbólico ao velho Balaústre, como protesto pela intervenção que a PMV quer fazer na obra. Bom seria que se fizesse nova manifestação, sem o “comboio” dos professores.” (grifos meus)
Na mesma frase ele diminui a presença de pessoas, discrimina “nativos ”e “não nativos”, trata dos estudantes como massa de manobra dos professores.
Da Câmara Municipal de Viçosa saiu, em matéria do mesmo jornal o comentário de um vereador médico que comentou sobre os professores, do curso de Arquitetura e Urbanismo, membros do Conselho, como “uns cabeças de bagre que temos que tolerar”(grifo meu).
É esse o nível de discussão que se quer levar, é claro que por um pequeno, embora influente grupo de pessoas. Há o risco de desfigurar o Balaústre e se iniciar um processo de desaparecimento do pouco que restou do patrimônio histórico de Viçosa, para receber intervenções sem a garantia que terão resultado e para que a construção civil, muito aquecida em Viçosa, possa substituir casarões ecléticos por prédios de doze pavimentos com afastamentos mínimos (alterados pela Câmara Municipal).
Estou feliz em ver que mais algúem leu tais absurdos e protestou!
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