Co-autoria com Paulo Tadeu Leite Arantes
Não é nenhuma novidade a extensa lista de problemas que as cidades, em especial as brasileiras, têm enfrentado no seu dia a dia. Nela, destacam-se dificuldades relacionadas com a gestão, com a mobilidade, com a segurança, sem perder de vista as relacionados com a insuficiência de saneamento e de infraestrutura, dentre tantas outras. Entretanto, mesmo diante de tantas adversidades, é possível tornar uma cidade mais interessante, inspiradora, criativa e, por que não, convidativa para seus moradores, quando componentes como arte, cultura e tecnologia passam a fazer parte do seu cotidiano. A explicação é simples: esses elementos, se bem trabalhados, podem funcionar como catalizadores das interações entre seus cidadãos, contribuindo, assim, para melhorar o ambiente de uma cidade.
Ao perceberem esse potencial, iniciativas cidadãs estruturadas nessa crença, começaram surgir em algumas cidades, mundo afora. Pegando carona nesta novidade, Recife, através de um programa chamado “The Playable City”, está colocando em prática novas formas de relacionamento cidade/cidadão/cidade. O nome em inglês, cuja tradução em português poderia ser algo como: “cidade brincável” (ou quem sabe: jogável, divertida, recreável, ou até mesmo, criativa) decorre de uma oportunidade que um grupo de pessoas ligadas a um bem sucedido parque tecnológico daquela metrópole, o Porto Digital, vislumbrou ao conhecer uma inciativa, já corrente e muito bem sucedida, na inglesa Bristol, que leva este nome.
Assim, após celebrarem um convênio de cooperação, técnicos e artistas, tanto pernambucanos como ingleses, ligados à economia criativa, desenvolveram um programa conjunto. O programa alia o potencial criativo de artistas à capacidade dos produtores, juntando ideias e soluções (criativas e inovadoras) para atacar alguns problemas da capital pernambucana. A partir desse intercâmbio de ideias e experiências surgiram intervenções, exposições e instalações que "brincam" com as pessoas, como é o caso das lixeiras divertidas, do provador virtual, da árvore musical, dos caminhos aquáticos (que chamam atenção para as potencialidades de seus rios) dentre tantas outras, aderentes a um programa de Playable City que, por definição, envolve um amplo compartilhamento do conhecimento, da arte, da ciência e da cultura.
É importante lembrar que não apenas Recife está embrenhando por estas searas. Um exemplo muito interessante de algo parecido a este programa pernambucano/inglês, já vem acontecendo, desde novembro do ano passado, em Santa Rita do Sapucaí, uma cidade de 40 mil habitantes, conhecida como Vale da Eletrônica. Com o nome “Cidade Criativa, Cidade Feliz” esta iniciativa tem como principal pressuposto mudar as relações entre cidade/morador/cidade. Começou com um evento de uma semana que, esse ano de 2014, durou um mês, com atividades ligadas à cultura, economia, inovação, sociedade, artes, música, teatro, sustentabilidade, empreendedorismo e troca de saberes, através da realização de palestras, cursos, shows, oficinas, que resultaram na criação de um robusto ecossistema local criativo e colaborativo.
Uma cidade como a nossa, cheia de estudantes vindos de vários locais do país, de artistas talentosos e de pessoas esbanjando conhecimento tem um potencial para desenvolver um programa com estes propósitos. Faltam-nos, todavia, duas condições básicas. A primeira é gente interessada em liderar iniciativas como esta e a segunda é ter uma boa interlocução com o poder local que, por sua vez, tem que demonstrar interesse em apoiá-la. Popularmente falando, estamos com a faca e o queijo na mão mas precisamos avançar e criar nosso programa “Viçosa Brincável”. Com ele, muito mais do que termos lixeiras criativas, árvores musicais ou caminhos de trem, podemos recompor as relações cidade/moradores/cidade, hoje completamente esgarçadas. Afinal, a criatividade não tem limite; só não existe o que não inventamos.
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