Sou professor universitário há vinte e três anos. Tempo suficiente para viver e perceber muitas mudanças. Tempo suficiente, também, para que eu mantenha alguns comportamentos em relação às pessoas, mas sem a mesma convicção de antes. Falo isso porque insisti num hábito adquirido desde a formatura da primeira turma, há 19 anos, que era o de ir cumprimentar os ex-alunos do curso nos gramados da UFV, logo após a colação de grau, após a tradicional e bonita queima de fogos. Isso aconteceu sempre que estive em Viçosa, na época das solenidades que eventualmente coincidia com minhas férias; independentemente do fato de ser ou não um dos homenageados.
Fato constatável é que as coisas mudaram. Na mais recente formatura, fui atrás dos alunos e recebido por uma pequena minoria com carinho, mas, para a maioria, tive a impressão de que minha presença ali não fazia muita diferença. Gostava desses momentos para conhecer os parentes dos alunos. Não fui apresentado a nenhum deles. Não fui com expectativa de receber convite para o coquetel, mas ouvi uns alunos perguntando aos outros se iriam. Os alunos se juntavam para tirar fotos e raramente me incluíram nelas. Isso marca uma trajetória em que começou com coquetéis oferecidos a todos os professores, numa fase em que os homenageados também ofereciam coquetéis, uma fase que tendem a persistir por uns tempos. Até uns poucos anos atrás, os professores escolhidos ganhavam convites, com seus acompanhantes, para os bailes, além de encontrarem mesas e assentos a eles destinados. Aos poucos os lugares foram desaparecendo e os convites destinados apenas aos homenageados e agora, nem isso tem mais. A espetaculosidade das festas foi alcançando níveis e custos altíssimos, ao mesmo tempo o grau de exclusão ampliou e foi deixando aos poucos os menos abastados fora da farra. As comemorações atingiram um grau de luxo, desperdício e esnobação que não deveriam, já há muitos anos, ter mais o respaldo irrestrito da UFV.
As cerimônias de formatura são momentos tão especiais, repletos de sentimento, mas se reduziram apenas a prazeres materiais (e que prazeres) e de grupos cada vez mais restritos. Como esperado, a primeira formatura do curso de Medicina já foi separada dos demais cursos, numa demonstração de que os seus alunos se acham diferentes dos demais. Voltando ao assunto, os alunos têm deixado a UFV sem sequer um agradecimento aos seus professores. Nem aqueles cartõezinhos com as fotos individuais aparecem mais. Para mim, além de falta de reconhecimento, é falta de educação.
Há outro lado tão triste como o criado pelos alunos. Antes, vários professores iam ao encontro dos ex-alunos, num último momento de convivência, uma despedida calorosa. Desta vez fui o único professor do curso a ir cumprimentá-los. Um mau sintoma também, pois a indiferença cria o distanciamento pelos dois lados. Os tempos são outros, mas as boas maneiras, a tolerância, o respeito e a gentileza nunca deveriam sucumbir. Tentarei manter, não sei por quanto tempo, um costume que não quero abandonar, mas que a indiferença incomoda muito, ah, incomoda!
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