30 abril 2018

BALNEÁRIO


Artigo publicado no jornal Folha da Mata, em 26/04/2018.


A mídia televisiva apresentou recentemente uma matéria sobre Balneário Camboriú, no litoral de Santa Catarina. Mostrou uma cidade em que a forma cujo crescimento é o que podemos chamar de “tiro no pé”. A cidade é considerada muito bonita por grande parte dos visitantes. A população fixa é estimada em 120 mil habitantes, no entanto, há dias, no verão, em que cerca de um milhão de pessoas estão nas praias. A matéria jornalística apresentou uma praia em que não bate mais sol, devido à sombra dos provocada pelos arranha-céus. 
 
É nesta cidade onde estão os prédios mais altos e os imóveis mais caros do Brasil. Pela sua verticalização, a cidade é conhecida como "Dubai" brasileira, Só que não nos apresenta apenas a altura exagerada dos prédios com 60, 70 até 80 pavimentos, com vários novos lançamentos imobiliários e em construção. A postura aparentemente liberal do planejamento urbano desse tipo de crescimento não veio acompanhada de infraestrutura adequada capaz de suportar o aumento da densidade populacional. Seria necessário um sistema viário mais amplo e a disponibilidade de mais vagas para estacionamentos, por exemplo. O aumento populacional demanda mais serviços de coleta de lixo e de esgoto, de abastecimento de água e de drenagem. Os blocos maciços das edificações criam microclimas com muito vento “encanado” e aumento da temperatura no nível do solo, tornando esses espaços locais de desagradável permanência.

Os impactos ambientais são graves. A cidade surgiu em função de uma beleza natural que se tornou toda artificial. Mangues e canais foram ocupados pela ação humana. As águas do mar são poluídas, a falta de sol nas águas altera a composição da flora aquática. Segundo os ambientalistas, pela falta de insolação, a praia fica coberta de briozoários, que são pequenos organismos marinhos que aparecem principalmente no verão e causam mau cheiro quando expostos ao sol. Recentemente foi dada uma licença ambiental prévia para uma obra de alargamento em cerca de cinquenta metros da faixa de areia, ao longo de seis quilômetros de praia. Trata-se de uma obra de custo aproximado de setenta milhões de reais. É muito dinheiro. 
 
Há um contraponto, um exemplo de cidade em que a densidade é mais adequada, a infraestrutura melhor dimensionada: Cabo Frio. A cidade não possui prédios com mais de seis pavimentos, tornando a distribuição de infraestrutura e de população muito mais equilibrada, mesmo na época em que recebe centenas de milhares de turistas. Voltando para o sul do país, quem manda em Balneário Camboriú é o poderoso setor imobiliário, que vende belas paisagens aos ricos compradores e distribui sombra para os banhistas, provoca engarrafamentos, enchentes e raciona água. Há sem dúvida quem goste da cidade e há quem ganhe muito com a forma com que a cidade cresce. O desenvolvimento de Balneário Camboriú está longe de ser ambiental e economicamente sustentável. Se olharmos com atenção, é possível deduzir que há ali desrespeito aos índices construtivos. Talvez seja como ocorre em tantas outras cidades brasileiras: as multas para regularização dos imóveis depois de prontos têm custo altamente compensador, acabam por se tornar estímulos para construir errado. 

Foto:
https://marsemfim.com.br/balneario-camboriu-sc-uma-aberracao/
 

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