Artigo publicado no jornal Folha da Mata, em 26/04/2018.
A mídia televisiva apresentou recentemente
uma matéria sobre Balneário Camboriú, no litoral de Santa
Catarina. Mostrou uma cidade em que a forma cujo crescimento é o que
podemos chamar de “tiro no pé”. A cidade é considerada muito
bonita por grande parte dos visitantes. A população fixa é
estimada em 120 mil habitantes, no entanto, há dias, no verão, em
que cerca de um milhão de pessoas estão nas praias. A matéria
jornalística apresentou uma praia em que não bate mais sol, devido
à sombra dos provocada pelos arranha-céus.
É nesta cidade onde estão os prédios
mais altos e os imóveis mais caros do Brasil. Pela sua
verticalização, a cidade é conhecida como "Dubai"
brasileira, Só que não nos apresenta apenas a altura exagerada dos
prédios com 60, 70 até 80 pavimentos, com vários novos lançamentos
imobiliários e em construção. A postura aparentemente liberal do
planejamento urbano desse tipo de crescimento não veio acompanhada
de infraestrutura adequada capaz de suportar o aumento da densidade
populacional. Seria necessário um sistema viário mais amplo e a
disponibilidade de mais vagas para estacionamentos, por exemplo. O
aumento populacional demanda mais serviços de coleta de lixo e de
esgoto, de abastecimento de água e de drenagem. Os blocos maciços
das edificações criam microclimas com muito vento “encanado” e
aumento da temperatura no nível do solo, tornando esses espaços
locais de desagradável permanência.
Os impactos ambientais são graves. A
cidade surgiu em função de uma beleza natural que se tornou toda
artificial. Mangues e canais foram ocupados pela ação humana. As
águas do mar são poluídas, a falta de sol nas águas altera a
composição da flora aquática. Segundo os ambientalistas, pela
falta de insolação, a praia fica coberta de briozoários, que são
pequenos organismos marinhos que aparecem principalmente no verão e
causam mau cheiro quando expostos ao sol. Recentemente foi dada uma
licença ambiental prévia para uma obra de alargamento em cerca de
cinquenta metros da faixa de areia, ao longo de seis quilômetros de
praia. Trata-se de uma obra de custo aproximado de setenta milhões
de reais. É muito dinheiro.
Há um contraponto, um exemplo de cidade em
que a densidade é mais adequada, a infraestrutura melhor
dimensionada: Cabo Frio. A cidade não possui prédios com mais de
seis pavimentos, tornando a distribuição de infraestrutura e de
população muito mais equilibrada, mesmo na época em que recebe
centenas de milhares de turistas. Voltando para o sul do país, quem
manda em Balneário Camboriú é o poderoso setor imobiliário, que
vende belas paisagens aos ricos compradores e distribui sombra para
os banhistas, provoca engarrafamentos, enchentes e raciona água. Há
sem dúvida quem goste da cidade e há quem ganhe muito com a forma
com que a cidade cresce. O desenvolvimento de Balneário Camboriú
está longe de ser ambiental e economicamente sustentável. Se
olharmos com atenção, é possível deduzir que há ali desrespeito
aos índices construtivos. Talvez seja como ocorre em tantas outras
cidades brasileiras: as multas para regularização dos imóveis
depois de prontos têm custo altamente compensador, acabam por se
tornar estímulos para construir errado.
Foto:
https://marsemfim.com.br/balneario-camboriu-sc-uma-aberracao/
Foto:
https://marsemfim.com.br/balneario-camboriu-sc-uma-aberracao/
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