Há muito tempo, em um reino distante, havia uma cidade chamada Politicagenópolis, onde quem mandava e desmandava eram os politiqueiros. Eles deitavam e rolavam nos lençóis de seda das mamatas e sabiam como transformar a prefeitura Casa da Mãe Joana em fontes inesgotáveis de vantagens pessoais. Afinal eles precisavam sobreviver às eleições e manter bem cuidados seus sitiozinhos de granito, blindex e churrasqueiras, para cuidar das gordas crias que continuariam a saga familiar para todo o sempre, se Deus quiser!
Para quem era amigo dos que mandavam e desmandavam sobravam muitos agradinhos. Era só deixar a coisa rolar, não prestar atenção aos que tinham fome, aos que eram analfabetos, aos doentinhos, aos viciados e aos chatos que só queriam o bem de Politicagenópolis. Uma briguinha ou outra acalmava os chatos, mas isso pouco chamava atenção à grande maioria desinteressada em algo além dos seus umbigos.
Em Politicagenópolis havia uma tradicional universidade, mas, segundo quem mandava, ela mais atrapalhava que ajudava, pois trazia estudantes demais para a cidade. Por um lado era bom, pois eles compravam os apartamentos-caixote que os mui amigos dos que mandavam e desmandavam construíam às centenas, nos topos de morros, dentro dos rios, em cada cantinho que desse para enfiar um caixotinho. Mas os estudantes faziam muitas festas barulhentas e espalhavam muita sujeira nas ruas, um coisa terrível.
A universidade também tentava ajudar a cidade. Tentava não, ajudava de verdade, mas os que mandavam e desmandavam diziam que havia muralhas separando os dois e que isso não acontecia. Só que quem erguia os muros feitos com blocos de concreto ideológico eram os que mandavam e desmandavam na cidadezinha. Estes também acusavam a universidade de ditadora e de cobradora pelos serviços que prestava. Mas, na verdade, eles não gostavam de fazer serviços com a universidade, pois sabiam que não havia margem para que eles tivessem a chance de recebern grandes fatias de bolo, para alimentar suas fomes intermináveis causadas pelos intestinais vermes vermelhos e cabeludos da corrupção. Era melhor buscar serviços lá fora, de preferência na capital Pastelândia ou até mesmo em Mar de Rosas, a capital do reino, pois lá havia muitos amigões do peito, com quem podiam contar para o que desse e viesse.
Era cidade prá lá e a universidade prá cá. Assim as coisas andariam em Politicagenópolis, imunes às quebras de paradigmas. Parecia que essa situação nunca ia acabar e que os que mandavam e desmandavam seriam felizes para sempre. Os que mandavam e desmandavam permitiram que a cidade fosse inchando, o mesmo ia acontecendo com seus bolsos. Esticaram a cidade rica para cá, inventavam uma cidade que nem era cidade para os pobres prá lá. Puxaram a cidade para cima, construíram shoppings, postos de gasolina, prédios comerciais. Mandaram e desmandaram e foram muito felizes por gerações.
Por fim, onde um dia fora a próspera Politicagenópolis, nada mais havia de pé décadas depois, pois os rios tomaram seus leitos de volta, os morros desabaram, as frágeis construções se desmancharam, a universidade aos poucos foi sufocada e os que mandavam e desmandavam haviam ido curtir férias no Caribe, muito tempo antes de tudo se acabar. Quem se formou na universidade foi embora, os professores e a própria universidade foram procurar um lugar onde foram melhor aceitos.
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