04 abril 2011

Nós e os nós


Uma lei desobedecida:

1.420/2000 - Institui a Lei de Ocupação, Uso do Solo e Zoneamento do Município de Viçosa

Art. 54 - Para a ZC, o gabarito máximo das edificações será de:
I - 10 (dez) pavimentos para vias com caixa de largura igual ou superior a 7m (sete metros) e vias com saída;
II – 6 (seis) pavimentos para vias com caixa de largura inferior a 7m (sete metros) e vias de pedestres ou vias sem saída.



Publicado no Tribuna Livre n. 1032, de 01 de abril de 2011

Vocês já pensaram quando aquele monte de apartamentos e lojas estiverem habitados e utilizados na Rua dos Estudantes? Lá terá em poucos meses mais de quatrocentos imóveis, dentre apartamentos, lojas e apart hotel. Se, para cada apartamento, loja, escritório, tiver que circular um automóvel (não é uma conta precisa, mas devem ser considerados também carros de donos de lojas, dos clientes, caminhões, táxis, carros de visitantes, carros procurando por vagas que não existem nas proximidades etc.) e se os enfileirarmos, teremos uma fila com pelo menos dois quilômetros de extensão. A rua tem uns 270 metros apenas. A sua via é estreita (não mais que 5,50 m), calçadas só de um lado, tem péssimos acessos. Atualmente já fica totalmente ocupada, servindo de estacionamento para as áreas próximas. E todo o fluxo será escoado para a congestionada Av. P. H. Rolfs e para o acesso à Vila Gianetti. Como será tal confusão? Ainda por cima, há ainda outros empreendimentos previstos para a área.

São Paulo acaba de comemorar a entrada em circulação do sétimo milionésimo. automóvel nas mesmas ruas onde antes circulavam 4, 5 ou 6 milhões. Nas milhares de "ruas dos Estudantes" no Brasil, os nós se fazem com facilidade e são desfeitos com muito stress. Há muitas cidades onde já existem mais rodas do que pés, como já ocorre em Viçosa. Os nós no trânsito vão surgindo e se ampliando. Imaginem quando ocorrer na nossa rua dos Estudantes algo que gere alguma situação de obra, transtorno ou mesmo de pânico na área (incêndio, carga e descarga com grandes veículos, correria de pessoas, tiros, acidentes, alagamentos, acúmulo de entulhos, obras de infraestrutura)? No simples dia-a-dia, como será se muitos quiserem chegar ou sair ao mesmo tempo?


É preciso tempo para planejar soluções nas cidades. Planejar é antecipar. Mas é o planejamento que os políticos e construtores dos muitos prédios não se interessam, pois visam, antes de mais nada, aos lucros. Querem apenas o "seu" progresso. Os resultados arquitetônicos e urbanos são muito ruins, diria mesmo insustentáveis. Os setores da construção civil e imobiliário mascaram empreendimentos com nomes pomposos e sugestivos como "Eco life", "Green Tower", "Vila Fiori", "Parque dos Pássaros", "Villa Gaia" etc., que não são nada mais que conjuntos de muitos apartamentos de área mínima, sendo que vários têm janelas abertas para orientação solar desfavorável e a maioria são mal isolados térmica e acusticamente.


As soluções, mais que conhecidas, passam por: pensar na qualidade de vida das pessoas, estabelecer uma densidade populacional compatível com a malha urbana e a capacidade de fornecimento de infraestrutura; reduzir o trânsito pesado da área central; pensar na cidade sem automóveis em algumas áreas, principalmente as centrais; melhorar em muito o transporte coletivo, torná-lo de boa qualidade, confortável, seguro, pontual, muito mais barato e acessível; criar pistas específicas para bicicletas e calçadas acessíveis. Tudo isto é perfeitamente possível em qualquer cidade. Se não aproveitadas, as oportunidades podem ser perdidas, como é o caso do leito da linha férrea em Viçosa. Atualmente o que vemos é improviso e é destinado a solucionar o trânsito de veículos. Será que só muito tarde as autoridades correrão para dar soluções mirabolantes cada vez mais caras? Ou devemos apenas esperar o teletransporte (tão comum na ficção científica)?

4 comentários:

  1. Novas soluções que questionem as pessoas sobre o que são cidades agradáveis para se viver!

    Andréia Travaglia

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  2. Ítalo, acho que pelo andar da carroagem política e econômica de Viçosa, a unica solução é esperar o dia que a ciência consiga transformar matéria em onda e o teletransporte seja mesmo a salvação. Não ta fácil não.

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  3. Caro professor Ítalo,

    gostaria de convidá-lo para participar do evento Bicicletada Viçosa, que tem previsão de ocorrer no final desse mês, com o intuito de chamar a atenção das pessoas para o uso de transportes sustentáveis e que permitam um trânsito mais humano, além de conscientizar as pessoas sobre os direitos e deveres dos ciclistas no trânsito. O evento também pode ser visto com uma celebração ao encontro das pessoas e ao uso dos espaços urbanos. Caso se interesse, mandarei emails para nos articularmos. Relato que o estudante Zé Maurício(sapo) está entre nossa equipe, e algumas instituições estão previstas participação, como por exemplo o Engenheiros Sem Fronteiras - Núcleo Viçosa.
    abraços

    Twitter: @Sub_digital , @Raonigeo
    suburbanodigital.blogspot.com
    (31)8812-4176 (oi)

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  4. Gostaria tbm de pedir para que mude nosso link em seu blog:
    Ataksuburbano para > http://suburbanodigital.blogspot.com

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