17 abril 2011

O rio da minha aldeia

      O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia, 
      Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia 
      Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia. 
            O Tejo tem grandes navios 
            E navega nele ainda, 
            Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está, 
            A memória das naus. 
              O Tejo desce de Espanha
              E o Tejo entra no mar em Portugal.
              Toda a gente sabe isso. 
              Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia 
              E para onde ele vai 
              E donde ele vem. 
              E por isso porque pertence a menos gente, 
              É mais livre e maior o rio da minha aldeia. 
                Pelo Tejo vai-se para o Mundo. 
                  Para além do Tejo há a América 
                  E a fortuna daqueles que a encontram. 
                  Ninguém nunca pensou no que há para além 
                  Do rio da minha aldeia. 
                        O rio da minha aldeia não faz pensar em nada. 
                        Quem está ao pé dele está só ao pé dele.   
                        Alberto Caeiro (Fernando Pessoa)

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